Em texto publicitário referente à Cerveja Gran Bohemia (990 ml), veiculado pela Revista Veja de novembro de 2011, encontra-se a seguinte afirmação: “Já que não dava para deixar a Bohemia ainda mais grandiosa no sabor, deixamos na garrafa”.
Em qual das opções abaixo, a reescrita desse texto publicitário mantém o sentido estabelecido pela relação semântica do conectivo “já que”?
A questão refere-se à crônica abaixo, de Carlos Drummond de Andrade.
A descoberta do mar
Os alunos daquela escola do subúrbio nunca tinham
visto o mar. Saíram em excursão, de ônibus, pediram ao
motorista que desse uma volta pela Zona Sul. Viram,
ficaram deslumbrados.
[5] – Dá outra volta! Para um pouquinho!
Não me contaram onde é a escola; sente-se que fica
longe, sem esperança, num desses inúmeros cafundós
do Rio que não são o Rio, e que a gente mal percebe de
avião, ponto cinzento ou pardo na pele da cidade. Ou
[10] quem sabe se a trinta minutos da praia, porque não é a
distância nem a má conservação das estradas que não
permite a uma parte da população tomar conhecimento
de nossas amenidades: é a pobreza. O custo da
condução e do farnel impede à família de seis pessoas,
[15] residente no Rio, realizar a aventura deliciosa de passar
o domingo no Rio, simplesmente saindo de casa pela
manhã e regressando à noitinha.
Quando se fala em turismo na Guanabara, dá
vontade de propor um turismo paroquial, dominical, para
[20] meninos e meninas que crescem ignorantes da cidade,
sonhando com o mar impossível. Não ganharíamos um
dólar com isso, mas eles voltariam menos pobres a seus
subúrbios áridos, e o Rio se tornaria um pouco mais
humano, com a população vinculada ao bem comum da
[25] paisagem. Que custa nos tornarmos condôminos do azul
e da onda?
“Para um pouquinho!” O ônibus precisa voltar, a
professora que acompanha os garotos sente pena deles,
porém o mar não se carrega no bolso, há que carregá-lo
[30] na lembrança. É como se os garotos, de repente,
virassem gregos de Xenofonte, gritando: “Thalassa!
Thalassa!” ao fim de longa caminhada. Primeiro encontro
do menino com o mar, do mar com o menino – e nem se
conheceram de um banhar-se no outro, ninguém trouxe
[35] calção. O menino apenas esticou o pé na areia úmida,
sentiu o arrepio do contato, menos que isso; a espuma
tocou o bico do sapato, espalhou-se de leve, o menino
empalideceu, coração batendo de conhecer o mar,
súbita iluminação entre sua biboca triste e o marulho
[40] tocável.
Não fantasio sensações. Quem nasceu no pé do
mar talvez não perceba essas coisas. O mar é seu
irmão, e ele costuma passar indiferente pela praia, como
fazem irmãos de tanto se habituarem à convivência.
[45] Quantas pessoas vão diariamente do Leblon ao centro,
sem olhar, e como o urbanismo vai aterrando a baía
como método, cada vez reparamos menos no que
sobrou ou lembramos do que acabou. Mas quem veio do
sertão ou da mata, quem vive no subúrbio onde o trem
[50] que passa ao entardecer ou de madrugada convida à
viagem que nunca será feita, este sabe o que é o desejo,
apetite de mar.
Os garotos mitigaram – por alguns momentos –
esse desejo. Fizeram a descoberta, agora são
[55] homenzinhos nostálgicos e importantes, que podem
dizer aos companheiros. “O mar? É aquela coisa infinita,
azul, verde-arroxeada, que solta um gemido fundo e
deixa uma neblina salgada na cara da gente...”
(ANDRADE, Carlos Drummond. Cadeira de balanço: crônica RJ: J. Olympio, 1978.)
O texto de Drummond é uma crônica.
Um dos traços fundamentais que constitui o gênero crônica e que está presente no texto “A descoberta do mar” é
A questão refere-se à crônica abaixo, de Carlos Drummond de Andrade.
A descoberta do mar
Os alunos daquela escola do subúrbio nunca tinham
visto o mar. Saíram em excursão, de ônibus, pediram ao
motorista que desse uma volta pela Zona Sul. Viram,
ficaram deslumbrados.
[5] – Dá outra volta! Para um pouquinho!
Não me contaram onde é a escola; sente-se que fica
longe, sem esperança, num desses inúmeros cafundós
do Rio que não são o Rio, e que a gente mal percebe de
avião, ponto cinzento ou pardo na pele da cidade. Ou
[10] quem sabe se a trinta minutos da praia, porque não é a
distância nem a má conservação das estradas que não
permite a uma parte da população tomar conhecimento
de nossas amenidades: é a pobreza. O custo da
condução e do farnel impede à família de seis pessoas,
[15] residente no Rio, realizar a aventura deliciosa de passar
o domingo no Rio, simplesmente saindo de casa pela
manhã e regressando à noitinha.
Quando se fala em turismo na Guanabara, dá
vontade de propor um turismo paroquial, dominical, para
[20] meninos e meninas que crescem ignorantes da cidade,
sonhando com o mar impossível. Não ganharíamos um
dólar com isso, mas eles voltariam menos pobres a seus
subúrbios áridos, e o Rio se tornaria um pouco mais
humano, com a população vinculada ao bem comum da
[25] paisagem. Que custa nos tornarmos condôminos do azul
e da onda?
“Para um pouquinho!” O ônibus precisa voltar, a
professora que acompanha os garotos sente pena deles,
porém o mar não se carrega no bolso, há que carregá-lo
[30] na lembrança. É como se os garotos, de repente,
virassem gregos de Xenofonte, gritando: “Thalassa!
Thalassa!” ao fim de longa caminhada. Primeiro encontro
do menino com o mar, do mar com o menino – e nem se
conheceram de um banhar-se no outro, ninguém trouxe
[35] calção. O menino apenas esticou o pé na areia úmida,
sentiu o arrepio do contato, menos que isso; a espuma
tocou o bico do sapato, espalhou-se de leve, o menino
empalideceu, coração batendo de conhecer o mar,
súbita iluminação entre sua biboca triste e o marulho
[40] tocável.
Não fantasio sensações. Quem nasceu no pé do
mar talvez não perceba essas coisas. O mar é seu
irmão, e ele costuma passar indiferente pela praia, como
fazem irmãos de tanto se habituarem à convivência.
[45] Quantas pessoas vão diariamente do Leblon ao centro,
sem olhar, e como o urbanismo vai aterrando a baía
como método, cada vez reparamos menos no que
sobrou ou lembramos do que acabou. Mas quem veio do
sertão ou da mata, quem vive no subúrbio onde o trem
[50] que passa ao entardecer ou de madrugada convida à
viagem que nunca será feita, este sabe o que é o desejo,
apetite de mar.
Os garotos mitigaram – por alguns momentos –
esse desejo. Fizeram a descoberta, agora são
[55] homenzinhos nostálgicos e importantes, que podem
dizer aos companheiros. “O mar? É aquela coisa infinita,
azul, verde-arroxeada, que solta um gemido fundo e
deixa uma neblina salgada na cara da gente...”
(ANDRADE, Carlos Drummond. Cadeira de balanço: crônica RJ: J. Olympio, 1978.)
Sobre a crônica “A descoberta do mar”, não se pode afirmar:
A questão refere-se ao poema abaixo de Gildes Bezerra
CANTÁ
Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi qui o peito
Cantá bem mais forte qui a dô
[...]
Cantá cumu quem dinuncia
A pió injustiça da vida:
A fomi i as panela vazia
Nus lá qui num tem mais cumida
Cantá nossa vida i a roça
Nas quar germina as semente,
As qui dão fruto na terra
I as qui dão fruto na gente
[...]
Cantá, cantá sempri mais:
Di tardi, di noiti i di dia
Cantá, cantá qui a paiz
Carece de mais cantoria
Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi qui o peito,
Cantá bem mais forti qui a dô.
(Gildes Bezerra)
Sobre o poema “Cantá”, pode-se afirmar:
Assinale a opção em que a divisão silábica esteja adequada à norma-padrão da língua portuguesa e em que ocorra um ditongo crescente em todas as palavras.
Qual o sinal de pontuação mais adequado para substituir os parênteses abaixo?
“Aguardava o seguinte ( ) que pelo menos o ouvissem uma única vez"