Sobre o texto, assinale a afirmativa CORRETA.
Leia o texto com atenção para responder à questão
Difícil tarefa
Lya Luft 29/10/2016
Quando crianças, o tempo para nós é sempre "agora": brincar, mamãe, com sorte mais carinho do que violência, coisas desse tipo. Somos imediatistas. Depois, ainda pequenos, contamos o tempo pelas vezes em que teremos de dormir: "Quantas vezes tenho de dormir até o Natal? Até o aniversário?".
Saindo do limbo da infância, começamos a ter projetos. Precisamos ter projetos. Nos dizem que temos de ter projetos, mais do que desejos ou sonhos, porque estamos ficando "grandes" e precisamos ser responsáveis. Alguns sonhos e desejos podem se transformar em projetos cada vez mais complexos e a mais longo prazo, à medida que nos tornamos adultos. Com eles chegam as frustrações: eu queria ser rico, acabei remediado, queria ser famoso, sou um anônimo. Eu queria ser médico, acabei taxista. Eu queria ser modelo, virei uma acomodada dona de casa; eu quis viajar o mundo, e só agora, quase na velhice, vou conhecer o Rio.
A frustração tem a medida do desejo que não se realizou, ou da nossa incapacidade de nos adaptarmos ao real – sem perder a capacidade de voar. Não é preciso pisar na Lua para ser bem-sucedido, nem ter um Everest de dólares para se sentir bem na própria pele, isso que eu chamo de "ser feliz". Gostar do que conseguimos: fazer caber nossas alegrias, isso que fazemos, desde que não nos humilhe nem degrade. Por que não posso ser bem-sucedida tendo uma casa simples mas acolhedora e uma família em que, apesar das brigas naturais, nos apoiamos uns aos outros em lugar de criticar? Por que conduzindo pessoas num táxi não posso fazer bem a elas e sustentar minha gente? Por que não sendo modelo, mesmo assim não posso me achar bonita, simpática, rica de emoções e coisas boas?
O problema maior é descobrir quem somos, o que desejamos e o que podemos. Ignorar, superar os preconceitos, as regras, as receitas de ser bem-sucedido e feliz. Empoderamento, palavra clichê do momento (até rimou), me aborrece um pouco. Por que teríamos de ser todos poderosos? Importa, mais que isso, sermos decentes, dignos, úteis, amorosos, compassivos, criativos, e capazes de ver – mesmo na correria desta vida moderna – a beleza das nuvens disparando no céu, a dança das copas das árvores ou das ondas do mar quando venta forte. De telefonar para o amigo em dificuldade, dedicar um tempo aos filhos, ou aos pais, escutar o parceiro com carinho, enfim, sermos humanos sem maior complicação.
Para entender quem somos, quem queremos ser, quem podemos ser – não o que os outros, a turma, a sociedade, querem que sejamos –, é preciso parar pra pensar. "Parar pra pensar? Nem pensar! Se eu paro pra pensar, desmorono", é a frase mais comum. Então esse deveria ser nosso heroísmo fundamental: interromper a agitação, um momento que seja, clarear a paisagem interior dominando a impaciência e o pessimismo. Enfrentando como podemos a realidade de um país confuso num mundo conturbado, na floresta de enganos em que se desperdiçam bons amores e desejos. Assim talvez sejam menos dolorosas as inevitáveis frustrações que por toda parte espreitam – porque viver, e conviver, sem perder a bondade nem a coragem, é difícil tarefa.
(LUFT, Lya. Difícil tarefa. Disponível em: 8058075.html>. Acesso em: 1 nov. 2016).
Em relação ao título do texto, podemos afirmar que se refere à dificuldade que temos de:
Atualmente, discute-se se existe ou não algo como uma cultura do estupro. Por cultura do estupro quer-se expor isto: o nosso modo de viver, que inclui formas de pensar e de agir, no qual o estupro foi naturalizado. Isso quer dizer que o estupro seria algo tão banal, tão corriqueiro, tão comum, que não nos preocuparíamos com ele.
No contexto da cultura do estupro, está em vigência uma mentalidade que não vê como muito problemático que um homem estupre uma mulher. O estupro não é considerado anormal. Muitas vezes o próprio estuprador sequer consegue perceber que o seu ato é um estupro. Outras vezes não vê seu ato como um crime, mas como um estranho direito sobre uma mulher ou outra pessoa estuprável. Um estupro é incomparável e pode ser aniquilador de uma subjetividade, de um corpo, de uma vida. O horror do estupro expressa muitos outros horrores. Os horrores da própria cultura que é capaz de produzir subjetividades capazes desse crime.
A maior parte das pessoas se sente confusa diante de estupros. Talvez por confusão, mais do que por maldade, acabem por especular sobre a vítima, que é desrespeitada na sua condição de vítima. Aquele hábito super comum de colocar a culpa na roupa, no comportamento, no modo de ser da vítima, aprofunda ainda mais a cultura do estupro. É como se a pessoa continuasse sendo estuprada, violentada pelos ataques verbais, depois de ter sido estuprada fisicamente. Como se, depois do estupro físico, a pessoa estuprada continuasse sendo estuprada simbolicamente.
De todos os estupros que ocorrem diariamente, segundo os dados do Sinan, calcula-se, de maneira otimista, que apenas 10% desses crimes são noticiados e chegam ao conhecimento da polícia. O estupro é um crime que se dá às escuras, envolto em vergonha e muito preconceito. Segundo os dados do Sinan, 24,1% dos estupradores de crianças são os próprios pais ou padrastos, e em 32,2% dos casos são amigos ou conhecidos da vítima.
Desses estupros noticiados, muitos não chegaram à condenação, pela inoperância da investigação policial e, sobretudo, pelo machismo, que condiciona, em grande parte, a atuação da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ou seja, se os dados do Sinan estiverem certos, mudanças na legislação penal não alcançariam mais do que 10% dos casos de estupro.
Adaptado de Estupro em potencial – para pensar a cultura do estupro. Márcia Tiburi, Revista Cult. Disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2016/06/estupro-em-potencial-para-pensar-a-cultura-do-estupro/. Acesso em jun. 2016
Considerando o texto apresentado, analise as afirmativas abaixo.
I. A autora afirma que mudanças na legislação são ineficientes para conter os casos de estupro no país.
II. A questão colocada no início no texto não é respondida ao longo do desenvolvimento das ideias.
III. A autora não afirma que o estupro seja algo banal e corriqueiro em nossa sociedade.
IV. Ao afirmar que “Muitas vezes o próprio estuprador sequer consegue perceber que o seu ato é um estupro”, a autora reduz a responsabilidade do estuprador.
V. De acordo com a autora, culpabilizar a vítima é um recurso de amenização da cultura do estupro.
Está CORRETO o que se afirma em
Atualmente, discute-se se existe ou não algo como uma cultura do estupro. Por cultura do estupro quer-se expor isto: o nosso modo de viver, que inclui formas de pensar e de agir, no qual o estupro foi naturalizado. Isso quer dizer que o estupro seria algo tão banal, tão corriqueiro, tão comum, que não nos preocuparíamos com ele.
No contexto da cultura do estupro, está em vigência uma mentalidade que não vê como muito problemático que um homem estupre uma mulher. O estupro não é considerado anormal. Muitas vezes o próprio estuprador sequer consegue perceber que o seu ato é um estupro. Outras vezes não vê seu ato como um crime, mas como um estranho direito sobre uma mulher ou outra pessoa estuprável. Um estupro é incomparável e pode ser aniquilador de uma subjetividade, de um corpo, de uma vida. O horror do estupro expressa muitos outros horrores. Os horrores da própria cultura que é capaz de produzir subjetividades capazes desse crime.
A maior parte das pessoas se sente confusa diante de estupros. Talvez por confusão, mais do que por maldade, acabem por especular sobre a vítima, que é desrespeitada na sua condição de vítima. Aquele hábito super comum de colocar a culpa na roupa, no comportamento, no modo de ser da vítima, aprofunda ainda mais a cultura do estupro. É como se a pessoa continuasse sendo estuprada, violentada pelos ataques verbais, depois de ter sido estuprada fisicamente. Como se, depois do estupro físico, a pessoa estuprada continuasse sendo estuprada simbolicamente.
De todos os estupros que ocorrem diariamente, segundo os dados do Sinan, calcula-se, de maneira otimista, que apenas 10% desses crimes são noticiados e chegam ao conhecimento da polícia. O estupro é um crime que se dá às escuras, envolto em vergonha e muito preconceito. Segundo os dados do Sinan, 24,1% dos estupradores de crianças são os próprios pais ou padrastos, e em 32,2% dos casos são amigos ou conhecidos da vítima.
Desses estupros noticiados, muitos não chegaram à condenação, pela inoperância da investigação policial e, sobretudo, pelo machismo, que condiciona, em grande parte, a atuação da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ou seja, se os dados do Sinan estiverem certos, mudanças na legislação penal não alcançariam mais do que 10% dos casos de estupro.
Adaptado de Estupro em potencial – para pensar a cultura do estupro. Márcia Tiburi, Revista Cult. Disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2016/06/estupro-em-potencial-para-pensar-a-cultura-do-estupro/. Acesso em jun. 2016
No texto em análise, uma expressão que funciona cataforicamente é
Há um quadro de Magritte que representa a capacidade de extrapolar a partir de um contexto: o artista é capaz de ver um ovo e pintar uma ave. Há um poema de Blake que nos fala de “ver o mundo em um grão de areia e todo o céu em uma flor selvagem, em ter o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora”. Também aqui, as capacidades de articulação micro/macro, de combinação análise/síntese são especialmente valorizadas.
Tanto a relação contexto/extrapolação quanto a capacidade de uma visão sintética, de uma cartografia simbólica do real, exigem, no entanto, os cuidados do tempero, ou de um grão de sal. Uma lagartixa imóvel em um muro nos faz lembrar de Blake e Magritte. A imaginação pode nos levar do pequeno réptil ao enorme jacaré, tal como uma miniatura metálica nos faz pensar no automóvel real. Mas temer a lagartixa como se teme um jacaré não é virtude da imaginação; pode ser simples paranoia. Falar em público e viajar de avião, às vezes, são lagartixas disfarçadas de jacarés. MACHADO, N. J. A lagartixa e o jacaré.
Disponível em http://www.nilsonjosemachado.net/mil-e-uma-146-a-lagartixa-e-o-jacare/. Acesso em jun. 2016.
Traduz uma ideia presente no texto a seguinte afirmação:
Há um quadro de Magritte que representa a capacidade de extrapolar a partir de um contexto: o artista é capaz de ver um ovo e pintar uma ave. Há um poema de Blake que nos fala de “ver o mundo em um grão de areia e todo o céu em uma flor selvagem, em ter o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora”. Também aqui, as capacidades de articulação micro/macro, de combinação análise/síntese são especialmente valorizadas.
Tanto a relação contexto/extrapolação quanto a capacidade de uma visão sintética, de uma cartografia simbólica do real, exigem, no entanto, os cuidados do tempero, ou de um grão de sal. Uma lagartixa imóvel em um muro nos faz lembrar de Blake e Magritte. A imaginação pode nos levar do pequeno réptil ao enorme jacaré, tal como uma miniatura metálica nos faz pensar no automóvel real. Mas temer a lagartixa como se teme um jacaré não é virtude da imaginação; pode ser simples paranoia. Falar em público e viajar de avião, às vezes, são lagartixas disfarçadas de jacarés. MACHADO, N. J. A lagartixa e o jacaré.
Disponível em http://www.nilsonjosemachado.net/mil-e-uma-146-a-lagartixa-e-o-jacare/. Acesso em jun. 2016.
Falar em público e viajar de avião, às vezes, são lagartixas disfarçadas de jacarés.
A afirmação acima, retirada do texto, pode ser categorizada como uma