“Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo. As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.”
Clarice Lispector. “Insônia infeliz e feliz”. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Considerando as características do trecho apresentado, pode-se afirmar que ele pertence a uma crônica, pois
TEXTO PARA A QUESTÃO
Tempo de nos aquilombar
É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo no grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.
É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.
É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algemas,
e sim acertada tática, necessário esquema.
É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos
e que venham dias futuros, salve 2020
A mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.
Conceição Evaristo. Jornal O Globo, 31/12/2019.
O verso “É tempo de formar novos quilombos” é um exemplo de
TEXTO PARA A QUESTÃO
Tempo de nos aquilombar
É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo no grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.
É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.
É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algemas,
e sim acertada tática, necessário esquema.
É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos
e que venham dias futuros, salve 2020
A mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.
Conceição Evaristo. Jornal O Globo, 31/12/2019.
Considerando o enfoque do texto na denúncia social, o eu lírico revela, predominantemente,
“O lugar do ensino superior agora tem as portas abertas. A (...) Constituição é que impõe essa situação por decreto. Mas (...) este não pode garantir que todos tenham a tal ‘capacidade’ que lhes vai permitir o aproveitamento dessa educação. Há rapazes – até agora são poucas as moças com a força de vontade que Jabu, ainda menina, tinha para dar e vender – que recebem bolsas ou auxílios de algum tipo (...). As ‘aulas de reforço’ (...): um band-aid. Steve sabe que isso não é uma solução para o abismo da educação ruim do fundo do qual os alunos tentam emergir.
A Luta não terminou.
– (...) Eu tenho alunos de estudos africanos que não sabem escrever (...).
– Então o que é que nós devíamos estar fazendo? (...) O professor Nielson ainda usa terno (...), embora o padrão da indumentária tenha relaxado a partir do exemplo dado pelas túnicas de Mandela. (...) – Você não está propondo que a gente baixe ainda mais os critérios de admissão à universidade. Então a universidade é pra avançar no conhecimento ou é pra andar pra trás?
O que Steve está perguntando é se esse ensino adicional de faz de conta na esperança de elevar os alunos a um nível universitário pode compensar dez anos de educação primária e secundária de péssimo nível.”
GORDIMER, Nadine. O melhor tempo é o tempo presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p.82-83.
No excerto do romance da escritora sul-africana Nadine Gordimer, é possível identificar:
“Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo. (...).
Nesse ponto as pessoas são frequentemente vítimas de uma curiosa obnubilação. Elas afirmam que o próximo tem direito, sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem formado admite hoje em dia que sejam privilégio de minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski ou ouvir os quartetos de Beethoven? (...). Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos.”
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
Com base na leitura do texto, pode-se afirmar que Antonio Candido defende que o acesso a bens como a literatura e a música
Leia o texto a seguir:
Uma vida inteira pela frente.
O tiro veio por trás.
Cíntia Moscovich, Os cem menores contos brasileiros do século (organização: Marcelino Freire).
Embora seja um texto composto por apenas duas linhas, é possível caracterizá-lo como uma narrativa.
Nesse texto, essa caracterização deve-se ao fato de que ele apresenta