Leia o poema “Canção da tarde no campo”, extraído do livro Vaga Música, de Cecília Meireles.
Caminho do campo verde,
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.
Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha,
Meus pés vão pisando a terra
que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!
Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.
Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo
minha alma é a sombra da tua.
Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.
De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.
Eu ando sozinha,
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.
(Cecilia Meireles. Poesia completa, 2017.)
O eu lírico lança mão do recurso expressivo conhecido como antítese em:
Leia um trecho do capítulo XXII, intitulado “Agora um salto”, do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis.
Que os dois gêmeos participassem da lua de mel nobiliária dos pais não é coisa que se precise escrever. O amor que lhes tinham bastava a explicá-lo, mas acresce que, havendo o título produzido em outros meninos dois sentimentos opostos, um de estima, outro de inveja, Pedro e Paulo concluíram ter recebido com ele um mérito especial.
(Esaú e Jacó, 2012.)
No trecho, os dois pronomes relativos “que” referem-se, respectivamente, a
Leia um trecho do capítulo XXII, intitulado “Agora um salto”, do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis.
[...] havendo o título produzido em outros meninos dois sentimentos opostos, um de estima, outro de inveja, Pedro e Paulo concluíram ter recebido com ele um mérito especial.
(Esaú e Jacó, 2012.)
Em relação ao trecho que o sucede, o trecho em negrito expressa ideia de
O discurso indireto livre não deixa claro quem está com a palavra, se o narrador ou a personagem. O que permite distinguir é estar sendo relatado o pensamento da personagem, o qual é dela e não do narrador, por mais que este com ela se identifique.
(Nilce Sant'Anna Martins. Introdução à estilística, 1989. Adaptado.)
Ocorre discurso indireto livre no seguinte trecho do primeiro capítulo do romance Cinzas do Norte, de Miton Hatoum:
Leia um trecho do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary.
Segundo o coletivo Tiqqun, nós nos tornamos habitantes inofensivos e maleáveis das sociedades urbanas globais. Mesmo na ausência de qualquer obrigação, escolhemos fazer o que nos mandam fazer; permitimos que nossos corpos sejam administrados, que nossas ideias, nosso entretenimento e todas as nossas necessidades imaginárias sejam impostos de fora. Compramos produtos que nos foram recomendados pelo monitoramento de nossas vidas eletrônicas, e voluntariamente oferecemos feedbacks a respeito do que compramos. Somos o sujeito obediente que se submete a todas as formas de invasão biométrica e de vigilância. E que ingere comida e água tóxicas. E vive, sem reclamar, na vizinhança de reatores nucleares. Um bom indicador dessa abdicação completa da responsabilidade pela própria vida são os títulos dos best-sellers que nos dizem, com uma fatalidade sombria, quais são os mil filmes que devemos ver antes de morrer, os cem destinos turísticos que devemos visitar antes de morrer, os quinhentos livros que devemos ler antes de morrer.
(24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014.)
Para o coletivo Tiqqun, a sociedade contemporânea seria caracterizada, sobretudo, pela
Leia um trecho do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary.
Segundo o coletivo Tiqqun, nós nos tornamos habitantes inofensivos e maleáveis das sociedades urbanas globais. Mesmo na ausência de qualquer obrigação, escolhemos fazer o que nos mandam fazer; permitimos que nossos corpos sejam administrados, que nossas ideias, nosso entretenimento e todas as nossas necessidades imaginárias sejam impostos de fora. Compramos produtos que nos foram recomendados pelo monitoramento de nossas vidas eletrônicas, e voluntariamente oferecemos feedbacks a respeito do que compramos. Somos o sujeito obediente que se submete a todas as formas de invasão biométrica e de vigilância. E que ingere comida e água tóxicas. E vive, sem reclamar, na vizinhança de reatores nucleares. Um bom indicador dessa abdicação completa da responsabilidade pela própria vida são os títulos dos best-sellers que nos dizem, com uma fatalidade sombria, quais são os mil filmes que devemos ver antes de morrer, os cem destinos turísticos que devemos visitar antes de morrer, os quinhentos livros que devemos ler antes de morrer.
(24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014.)
Ao se transpor o trecho sublinhado para a voz ativa, a forma verbal resultante será