O feminino e o feminismo
O feminismo atual questiona precisamente a forma tradicional de desempenho do
papel de esposa e mãe. Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a
forma de relacionamento entre homens e mulheres, em primeiro lugar na família, mas
também no trabalho e na política. As feministas, de um modo geral, não aceitam a divisão
tradicional de trabalho entre sexos, pela qual cabem à mulher todas as tarefas domésticas,
deixando ao homem o relacionamento com o mundo externo ao lar. O fato de a mulher ser
mãe não justifica que ela assuma todos os encargos da procriação, o que acarreta sua
dependência do homem, que passa a ser o único a “trazer dinheiro para casa”. É esta
dependência que forma a base da subordinação da mulher, no plano econômico em primeiro
lugar e nos demais planos em consequência.
Quando a mulher também realiza trabalho remunerado, isso, em geral, não constitui
motivo para que ela deixe de desempenhar suas funções domésticas, acarretando-lhe o
“duplo encargo” de cuidar da produção de mercadorias (na empresa) e da reprodução da
força de trabalho (no domicílio). Daí a assalariada com encargos de família sentir-se
duplamente explorada: pelo patrão e pelo marido. A discriminação salarial contra a mulher
tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (ao seu pai ou
marido), ela é socialmente coagida a aceitar pagamento inferior por um trabalho que, por
isso mesmo, é rapidamente abandonado pelos homens, que almejam (e geralmente obtêm)
ganhos mais altos.
Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um
programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez
deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em
condições de igualdade. Assim, Betty Mindlin Lafer se pergunta: “o que aconteceria se
homens e mulheres dividissem igualmente todas as tarefas, ambos dedicando a metade do
dia a filhos e casa e a outra metade ao trabalho?” É claro que toda a sociedade teria que se
reorganizar para que isso fosse possível; hoje, em muito poucos empregos as pessoas podem
limitar o número de horas trabalhadas. E para que os homens pudessem encurtar o dia de
trabalho fora de casa, seria preciso que as mulheres estivessem mais preparadas para os
mesmos empregos, recebessem mais instruções e facilidades para se cultivar. Então homem
e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica
e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças.
O que aconteceria se houvesse alternativas à vida em família, e que outras formas de
viver se poderiam imaginar: comunidades, cuidado coletivo de crianças, mais escolas ou
creches, cooperativas para o trabalho doméstico...? Qual a educação ideal para meninos e
meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e
feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar?
Estas indagações revelam uma faceta do feminismo atual, que ele compartilha com
outros movimentos de libertação, como os de negros e homossexuais. Trata-se, antes mesmo
de tentar mudar as relações sociais objetivas, de encontrar uma nova identidade para a
mulher. Para que a mulher possa se libertar da sujeição que o comportamento dos outros —
os homens — lhe impõe, é preciso que ela mesma se liberte antes dos valores, atitudes e
preconceitos que desde criança lhe foram introjetados. O movimento feminista começa,
portanto, sua ação junto às próprias mulheres, propondo-lhes uma outra visão de si mesmas,
que supere os sentimentos de autodepreciação, que uma eventual recusa aos papéis
“femininos” não deixa de acarretar.
SINGER, Paul. O feminino e o feminismo. In: SINGER, P. e BRANT, V (orgs). São Paulo: o povo em movimento, Vozes/CEBRAP, 1983.
Para substituir os vocábulos encargos (linha 14), coagida (linha 17), indagações (linha 37), poderíamos empregar, sem prejuízo ao sentido,
O feminino e o feminismo
O feminismo atual questiona precisamente a forma tradicional de desempenho do
papel de esposa e mãe. Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a
forma de relacionamento entre homens e mulheres, em primeiro lugar na família, mas
também no trabalho e na política. As feministas, de um modo geral, não aceitam a divisão
tradicional de trabalho entre sexos, pela qual cabem à mulher todas as tarefas domésticas,
deixando ao homem o relacionamento com o mundo externo ao lar. O fato de a mulher ser
mãe não justifica que ela assuma todos os encargos da procriação, o que acarreta sua
dependência do homem, que passa a ser o único a “trazer dinheiro para casa”. É esta
dependência que forma a base da subordinação da mulher, no plano econômico em primeiro
lugar e nos demais planos em consequência.
Quando a mulher também realiza trabalho remunerado, isso, em geral, não constitui
motivo para que ela deixe de desempenhar suas funções domésticas, acarretando-lhe o
“duplo encargo” de cuidar da produção de mercadorias (na empresa) e da reprodução da
força de trabalho (no domicílio). Daí a assalariada com encargos de família sentir-se
duplamente explorada: pelo patrão e pelo marido. A discriminação salarial contra a mulher
tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (ao seu pai ou
marido), ela é socialmente coagida a aceitar pagamento inferior por um trabalho que, por
isso mesmo, é rapidamente abandonado pelos homens, que almejam (e geralmente obtêm)
ganhos mais altos.
Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um
programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez
deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em
condições de igualdade. Assim, Betty Mindlin Lafer se pergunta: “o que aconteceria se
homens e mulheres dividissem igualmente todas as tarefas, ambos dedicando a metade do
dia a filhos e casa e a outra metade ao trabalho?” É claro que toda a sociedade teria que se
reorganizar para que isso fosse possível; hoje, em muito poucos empregos as pessoas podem
limitar o número de horas trabalhadas. E para que os homens pudessem encurtar o dia de
trabalho fora de casa, seria preciso que as mulheres estivessem mais preparadas para os
mesmos empregos, recebessem mais instruções e facilidades para se cultivar. Então homem
e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica
e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças.
O que aconteceria se houvesse alternativas à vida em família, e que outras formas de
viver se poderiam imaginar: comunidades, cuidado coletivo de crianças, mais escolas ou
creches, cooperativas para o trabalho doméstico...? Qual a educação ideal para meninos e
meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e
feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar?
Estas indagações revelam uma faceta do feminismo atual, que ele compartilha com
outros movimentos de libertação, como os de negros e homossexuais. Trata-se, antes mesmo
de tentar mudar as relações sociais objetivas, de encontrar uma nova identidade para a
mulher. Para que a mulher possa se libertar da sujeição que o comportamento dos outros —
os homens — lhe impõe, é preciso que ela mesma se liberte antes dos valores, atitudes e
preconceitos que desde criança lhe foram introjetados. O movimento feminista começa,
portanto, sua ação junto às próprias mulheres, propondo-lhes uma outra visão de si mesmas,
que supere os sentimentos de autodepreciação, que uma eventual recusa aos papéis
“femininos” não deixa de acarretar.
SINGER, Paul. O feminino e o feminismo. In: SINGER, P. e BRANT, V (orgs). São Paulo: o povo em movimento, Vozes/CEBRAP, 1983.
Considerando as passagens destacadas, avalie as considerações feitas e indique a alternativa que as classifica adequadamente.
( ) “Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a forma de relacionamento entre homens e mulheres (...)” (linhas 2 e 3). A passagem deixa clara a existência de um conteúdo pressuposto, uma vez que, no passado, essa já foi uma das bandeiras.
( ) A discriminação salarial contra a mulher tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (...) (linhas 15 e 16). A expressão “a mesma base” reporta ao exemplo dado da dupla jornada ser desconsiderada, uma vez que o trabalho feito pela mulher fora de casa não a libera de “suas obrigações domésticas”.
( ) Então homem e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças. (linhas 29 a 31). Para que o enunciado possa ser compreendido, é fundamental reter a ideia apresentada nos enunciados anteriores, que estabelecem as condições para uma nova forma de conceber os papéis de homens e mulheres da estrutura social.
( ) Qual a educação ideal para meninos e meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar? (linhas 34 a 36) No enunciado
destacado, fica evidente que a responsabilidade pela manutenção do preconceito é, exclusivamente, da mulher.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
O feminino e o feminismo
O feminismo atual questiona precisamente a forma tradicional de desempenho do
papel de esposa e mãe. Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a
forma de relacionamento entre homens e mulheres, em primeiro lugar na família, mas
também no trabalho e na política. As feministas, de um modo geral, não aceitam a divisão
tradicional de trabalho entre sexos, pela qual cabem à mulher todas as tarefas domésticas,
deixando ao homem o relacionamento com o mundo externo ao lar. O fato de a mulher ser
mãe não justifica que ela assuma todos os encargos da procriação, o que acarreta sua
dependência do homem, que passa a ser o único a “trazer dinheiro para casa”. É esta
dependência que forma a base da subordinação da mulher, no plano econômico em primeiro
lugar e nos demais planos em consequência.
Quando a mulher também realiza trabalho remunerado, isso, em geral, não constitui
motivo para que ela deixe de desempenhar suas funções domésticas, acarretando-lhe o
“duplo encargo” de cuidar da produção de mercadorias (na empresa) e da reprodução da
força de trabalho (no domicílio). Daí a assalariada com encargos de família sentir-se
duplamente explorada: pelo patrão e pelo marido. A discriminação salarial contra a mulher
tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (ao seu pai ou
marido), ela é socialmente coagida a aceitar pagamento inferior por um trabalho que, por
isso mesmo, é rapidamente abandonado pelos homens, que almejam (e geralmente obtêm)
ganhos mais altos.
Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um
programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez
deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em
condições de igualdade. Assim, Betty Mindlin Lafer se pergunta: “o que aconteceria se
homens e mulheres dividissem igualmente todas as tarefas, ambos dedicando a metade do
dia a filhos e casa e a outra metade ao trabalho?” É claro que toda a sociedade teria que se
reorganizar para que isso fosse possível; hoje, em muito poucos empregos as pessoas podem
limitar o número de horas trabalhadas. E para que os homens pudessem encurtar o dia de
trabalho fora de casa, seria preciso que as mulheres estivessem mais preparadas para os
mesmos empregos, recebessem mais instruções e facilidades para se cultivar. Então homem
e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica
e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças.
O que aconteceria se houvesse alternativas à vida em família, e que outras formas de
viver se poderiam imaginar: comunidades, cuidado coletivo de crianças, mais escolas ou
creches, cooperativas para o trabalho doméstico...? Qual a educação ideal para meninos e
meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e
feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar?
Estas indagações revelam uma faceta do feminismo atual, que ele compartilha com
outros movimentos de libertação, como os de negros e homossexuais. Trata-se, antes mesmo
de tentar mudar as relações sociais objetivas, de encontrar uma nova identidade para a
mulher. Para que a mulher possa se libertar da sujeição que o comportamento dos outros —
os homens — lhe impõe, é preciso que ela mesma se liberte antes dos valores, atitudes e
preconceitos que desde criança lhe foram introjetados. O movimento feminista começa,
portanto, sua ação junto às próprias mulheres, propondo-lhes uma outra visão de si mesmas,
que supere os sentimentos de autodepreciação, que uma eventual recusa aos papéis
“femininos” não deixa de acarretar.
SINGER, Paul. O feminino e o feminismo. In: SINGER, P. e BRANT, V (orgs). São Paulo: o povo em movimento, Vozes/CEBRAP, 1983.
Observe as passagens destacadas e avalie as considerações feitas.
I - Em “Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em condições de igualdade”, o conetivo que introduz o período estabelece uma relação de oposição por subordinação concessiva.
II - No terceiro e quarto parágrafos, o grau de possibilidade, de realidade hipotética, é conferido pelo uso adequado dos tempos verbais, destacando-se o emprego de futuro do pretérito do indicativo e do imperfeito do subjuntivo.
III - O movimento feminista começa, portanto, sua ação junto às próprias mulheres (…) – o articulador portanto estabelece uma relação de explicação quanto ao conjunto de informações já apresentadas.
Assinale a alternativa correta.
O feminino e o feminismo
O feminismo atual questiona precisamente a forma tradicional de desempenho do
papel de esposa e mãe. Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a
forma de relacionamento entre homens e mulheres, em primeiro lugar na família, mas
também no trabalho e na política. As feministas, de um modo geral, não aceitam a divisão
tradicional de trabalho entre sexos, pela qual cabem à mulher todas as tarefas domésticas,
deixando ao homem o relacionamento com o mundo externo ao lar. O fato de a mulher ser
mãe não justifica que ela assuma todos os encargos da procriação, o que acarreta sua
dependência do homem, que passa a ser o único a “trazer dinheiro para casa”. É esta
dependência que forma a base da subordinação da mulher, no plano econômico em primeiro
lugar e nos demais planos em consequência.
Quando a mulher também realiza trabalho remunerado, isso, em geral, não constitui
motivo para que ela deixe de desempenhar suas funções domésticas, acarretando-lhe o
“duplo encargo” de cuidar da produção de mercadorias (na empresa) e da reprodução da
força de trabalho (no domicílio). Daí a assalariada com encargos de família sentir-se
duplamente explorada: pelo patrão e pelo marido. A discriminação salarial contra a mulher
tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (ao seu pai ou
marido), ela é socialmente coagida a aceitar pagamento inferior por um trabalho que, por
isso mesmo, é rapidamente abandonado pelos homens, que almejam (e geralmente obtêm)
ganhos mais altos.
Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um
programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez
deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em
condições de igualdade. Assim, Betty Mindlin Lafer se pergunta: “o que aconteceria se
homens e mulheres dividissem igualmente todas as tarefas, ambos dedicando a metade do
dia a filhos e casa e a outra metade ao trabalho?” É claro que toda a sociedade teria que se
reorganizar para que isso fosse possível; hoje, em muito poucos empregos as pessoas podem
limitar o número de horas trabalhadas. E para que os homens pudessem encurtar o dia de
trabalho fora de casa, seria preciso que as mulheres estivessem mais preparadas para os
mesmos empregos, recebessem mais instruções e facilidades para se cultivar. Então homem
e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica
e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças.
O que aconteceria se houvesse alternativas à vida em família, e que outras formas de
viver se poderiam imaginar: comunidades, cuidado coletivo de crianças, mais escolas ou
creches, cooperativas para o trabalho doméstico...? Qual a educação ideal para meninos e
meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e
feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar?
Estas indagações revelam uma faceta do feminismo atual, que ele compartilha com
outros movimentos de libertação, como os de negros e homossexuais. Trata-se, antes mesmo
de tentar mudar as relações sociais objetivas, de encontrar uma nova identidade para a
mulher. Para que a mulher possa se libertar da sujeição que o comportamento dos outros —
os homens — lhe impõe, é preciso que ela mesma se liberte antes dos valores, atitudes e
preconceitos que desde criança lhe foram introjetados. O movimento feminista começa,
portanto, sua ação junto às próprias mulheres, propondo-lhes uma outra visão de si mesmas,
que supere os sentimentos de autodepreciação, que uma eventual recusa aos papéis
“femininos” não deixa de acarretar.
SINGER, Paul. O feminino e o feminismo. In: SINGER, P. e BRANT, V (orgs). São Paulo: o povo em movimento, Vozes/CEBRAP, 1983.
Segundo o texto, ao propor a libertação da sujeição que o comportamento dos homens impõe às mulheres, podemos dizer que
I - o sentido de sujeição deve-se ao estado de se submeter a uma ordem instituída.
II - a mudança deve primeiro ocorrer com as mulheres que devem se libertar de valores que foram forjados para justificar um estado de dominação e submissão.
III - a comparação a outros movimentos como de negros e homossexuais dá a dimensão do problema, pois percebe as mulheres como grupo de minoria.
Assinale a alternativa correta.
Retrato
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida a minha face?
In: MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, 1972, p. 63-64.
Lizongea outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça, aconselhando a esposa neste regallado soneto
Gregório de Matos
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.
In: MATOS, Gregório de. Obra poética. v. 1. Rio de Janeiro: Record, 1990, p.507
Sobre o poema de Cecília Meireles, é incorreto afirmar que
“O pai era alto, forte, tinha o cabelo preto e o bigode espesso. Não era raro ele ficar mais de mês em viagem e nem assim a gente se esquecia da cara dele, por causa do nariz, chato como o de um lutador. Bastava lembrar o nariz e o resto se desenhava no pensamento.
— Vamos com essas pedras!
Por que falava assim comigo, tão danado? As pedras, eu as sentia dentro do peito, inamovíveis.
— Não posso, estão enterradas.
— Ah, Moleza.
Meteu as mãos na terra e as arrancou uma a uma.
Carreguei-as até o caminhão, enquanto ele se embrenhava no capinzal para pegar o alecrim.
— Pai, pai, o caminhão tá afundando!
A cabeça dele apareceu entre as ervas.
— Não vê que é a água que tá subindo, ô pedaço de mula?
E riu. Ficava bonito quando ria, os dentes bem parelhos e branquinhos.”
Sergio Faraco “Idolatria”. In: FARACO, Sergio. Hombre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.15-17.
Neste que é um dos contos mais conhecidos e elogiados de Sergio Faraco, o narrador fala de seu pai, um freteiro, descrevendo-o, a partir do episódio em que o caminhão enguiça em uma viagem que eles fizeram juntos, quando o filho ainda era um menino. A partir do fragmento, é incorreto afirmar que