Leia o texto para responder à questão.
Ainda me lembro do mal-estar que senti quando, em um tempo remoto – no eterno presente do mundo espetacular todo passado é remoto –, a TV Globo estreou No limite, no horário nobre de domingo. Pessoas “comuns” foram selecionadas entre uma multidão de concorrentes dispostos a pagar qualquer preço para aparecer na televisão. O grupo escolhido era levado para “longe da civilização” (mas não do set de filmagem) e dividido em duas equipes para enfrentar uma longa gincana de provas às vezes difíceis, outras vezes cruéis, em condições mais cruéis ainda. Não estou me referindo às dificuldades apresentadas pela natureza inóspita, nem ao esforço físico exigido pelas provas, mas à crueldade embutida nas regras do jogo. Ao final de cada prova, a equipe perdedora deveria escolher, diante das câmeras, um de seus integrantes para ser excluído do programa.
No início, as equipes perdedoras tendiam a votar pela eliminação dos mais fracos, que atrapalhavam o desempenho coletivo. O critério do jogador mais fraco, bem menos objetivo do que pode parecer, aos poucos foi se deslocando para atingir o mais chato, que poderia ser o que menos se adequasse à média – de idade, raça, tipo físico ou classe social – de sua equipe. Não demorou muito para que um clima facistóide, edulcorado por lágrimas e acompanhado de músicas sentimentais, dominasse o ritual semanal das eliminações.
(Maria Rita Kehl. “Três observações sobre os reality shows”. In: Videologias, 2004. Adaptado.)
Assinale a alternativa em que há o uso da linguagem figurada.