Questões de Literatura - Literatura de outros povos ou países de língua portuguesa - Literatura africana
Sou poeta e continuo trabalhando o domínio da poesia, mesmo que escreva em prosa. E quem me marcou mais foram os poetas brasileiros – os que chegaram a mim na altura em que eu começava a escrever. Principalmente o Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa. É um grande livro de cabeceira. Uma espécie de reencontro àquela linguagem que, nele, era um território. Era como a savana do meu país. Esse ‘sertão’ era qualquer coisa em que eu me reconhecia, me revia.
(“Mia Couto: ‘Sertão’, de Guimarães, é a savana africana”. http://veja.abril.com.br. Adaptado.)
No excerto, o escritor moçambicano Mia Couto identifica uma similaridade entre elementos e paisagens da obra de Guimarães Rosa com os da savana africana, presentes em seu país de origem.
Assim, conclui-se corretamente que o livro Grande Sertão: Veredas retrata características do bioma brasileiro denominado
TEXTO VIII
Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa
Os farrapos completam
[5] a paisagem íntima
O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante
Depois as doze horas de trabalho
Escravo
[10] britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
[15] à chuva
britar pedra
acarretar pedra
A velhice vem cedo
Uma esteira nas noites escuras
[20] basta para ele morrer
grato
e de fome
Agostinho Neto
Agostinho Neto, poeta angolano, combatente da luta anticolonial e primeiro Presidente da República, apresenta uma obra que se confunde com a história de seu país. Um dos seus temas é a relação penosa do homem com o seu trabalho no cotidiano, tornando assim sua arte popular e engajada.
Em todas as alternativas, as obras de arte expressam uma das temáticas presentes no poema de Agostinho Neto (Texto VIII), EXCETO em:
O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão.
O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimônia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo:
- Tenho que viver já, senão esqueço-me.
(...)
Foi no mês de dezembro que levaram Gigitinho. Lhe tiraram do mundo para pôr na guerra: obrigavam os serviços militares. O cego reclamou: que o moço inatingia a idade. E que o serviço que ele a si prestava era vital e vitalício.
COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Cia das Letras, 2012.
O conto “O cego Estrelinho”, do livro Estórias abensonhadas, do escritor moçambicano Mia Couto, narra a história do cego e seu guia, Gigito Efraim. Quando Gigito é convocado a ir para a guerra, Estrelinho sente-se perdido.
Considerando o excerto acima, o enredo e o desenvolvimento da narrativa, assinale a alternativa correta.
Por narrativas paralelas entende-se um procedimento literário segundo o qual dois ou mais fios narrativos pertencentes a níveis distintos de realidade se desenrolam intercaladamente formando um todo.
Considerando-se a sua estrutura, as duas narrativas que podem ser identificadas com base nessa definição são:
I
— Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
(...)
Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? Es um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
II
— Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.
Pepetela, Mayombe.
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance.
Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,
Leia o texto a seguir, que contém o início do conto “A menina do futuro torcido”, incluído em Vozes anoitecidas, de Mia Couto
Joseldo Bastante, mecânico da pequena vila, punha nos ouvidos a solução da sua vida. Viajante que passava, carro que parava, ele aproximava e capturava as conversas. Foi assim que chegou de ouvir um destino para sua filha mais velha, Filomeninha. Durante toda uma semana, chegavam da cidade notícias de um jovem que fazia sucesso virando e revirando o corpo, igual uma cobra. O rapaz tinha sido contratado por um empresário para exibir suas habilidades, confundir o trás para a frente. Percorria as terras e o povo corria para lhe ver. Assim, o jovem ganhou dinheiro até encher caixas, malas e panelas. Só devido das dobragens e enrolamentos da espinha e seus anexos. O contorcionista era citado e recitado pelos camionistas e cada um aumentava uma volta nas vantagens elásticas do rapaz. Chegaram mesmo a dizer que, numa exibição, ele se amarrou no próprio corpo como se fosse um cinto. Foi preciso o empresário ajudar para desatar o nó; não fosse isso, ainda hoje o rapaz estaria cintado.
COUTO, Mia. Vozes anoitecidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 127.
O trecho contém uma frase significativa tanto para este conto quanto para outros contos do livro: “O rapaz tinha sido contratado por um empresário para exibir suas habilidades, confundir o trás para a frente.”.
Sobre a relação desse trecho com os outros contos do livro, assinale a alternativa correta.
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