Texto
Prefácio
Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro,
As traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora.
(FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 61.)
O filósofo paraense Benedito Nunes homenageou Mário Faustino com o epíteto de “Poeta da poesia”, devido a reiteradas reflexões, em sua construção poemática, sobre a arte dos poetas, em uma variedade de vozes, motivos, metáforas que representam a experiência humana numa riqueza espetacular. Ao escrever sobre a poesia de Faustino, o filósofo expõe que: “Por volta de 1959, após haver repensado Mallarmé e Pound, Jorge de Lima e os concretistas, Mário Faustino escrevia: ‘A cibernética, graças aos deuses, nunca poderá produzir poesia: a área multifária de cada palavra é incomensurável; célula de N átomos, incalculável, imponderável, indirigível. A poesia será sempre mágica, metafísica, jamais uma ciência exata, pura ou aplicada. Isto eu já sei, profundamente. Um saber para toda a existência, irretificável, confundindo- -se com a própria existência, agindo sobre ela e modificando-a à sua imagem’”.
Sobre o poema “Prefácio”, de Mário Faustino (Texto), assinale a alternativa correta: