Texto
Nova Poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem
engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe
o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem
por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.
(Manuel Bandeira)
De acordo com a teoria do poeta sórdido, a poesia deve principalmente provocar, no leitor, o seguinte efeito:
Texto
Movimento que ganhou força nas redes sociais, a cultura do cancelamento descreve uma forma de denúncia, crítica e boicote a um indivíduo, geralmente artista, celebridade, político ou personalidade pública, cuja opinião ou atitude são consideradas ofensivas, preconceituosas, controversas ou inaceitáveis. Mesmo se você não for muito ativo nas mídias sociais, provavelmente já experimentou a repentina onda de medo quando percebe que disse algo que não deveria - e alguém notou. Essa aflição não ocorre à toa. Um deslize nas redes e você é cancelado. Seu erro, de repente, parece grave e irreparável, talvez possa custar seu emprego, afetar toda a sua vida e trazer consequências por anos. O termo cancelar, que antes se referia a produtos ou serviços, agora passa a ser usado também para pessoas. Impossível resistir à reflexão de que talvez estejamos empregando para nossas relações interpessoais as mesmas práticas utilitaristas adotadas pela sociedade de consumo. (...)
Embora as variantes históricas do que hoje chamamos de cultura do cancelamento funcionem há muito como ferramenta de reivindicação por justiça e necessidade de reforma, o fenômeno atual ganha contornos específicos. Alguns dos movimentos coletivos mais importantes dos últimos anos transcorreram na esteira da cultura do cancelamento, quando pautas de combate às desigualdades sociais, raciais e de gênero puderam ganhar maior visibilidade. Fizeram parte desse processo movimentos como #metoo e #blacklivesmatter, que aprofundaram o debate na polis ao denunciar casos de abuso sexual e de racismo, respectivamente. A questão, contudo, não é simples e, paradoxalmente, o resultado da cultura do cancelamento pode ser oposto ao que se pretende, aumentando a visibilidade do cancelado. Ademais, o ato de simplesmente cancelar pode esvaziar o debate político, ao gerar a ilusão de que o problema deixou de existir.
Pode-se questionar ainda qual o destino daquele que foi cancelado. Há indícios fortes para acreditarmos que o mero banimento virtual não seja capaz de promover transformações favoráveis sólidas. O ressentimento advindo do cancelamento pode fortalecer nas redes movimentos conservadores ou extremistas, dispostos a contestar o cancelamento - e cancelar quem cancelou. Portanto, o banimento por determinado grupo pode significar adesão por parte de outro, alimentando relações que contemplam cada vez menos as nuances e o contraditório. O cancelamento alimenta-se de uma métrica severa e intolerante ao erro, que em algum momento recairá também sobre quem o pratica, afinal, quem nunca falhou? Nesse cenário, sobra pouco espaço para o arrependimento e o debate frequentemente cede lugar ao revanchismo, acusação e certeza cega.
A escassez de produção de dúvida, própria do comportamento em massa visto nas mídias sociais, não abre espaço para o debate mais aprofundado e verdades absolutas - como se elas existissem - são facilmente absorvidas. O fenômeno é rapidamente propagado e amplificado nos espaços virtuais, que proporcionam a ilusão de anonimato e a facilidade de denunciar ou cancelar alguém com um simples clique. Soma-se isso à urgência de que cada um posicionese a respeito de qualquer tema, ainda que não se tenha informação ou tempo suficientes para formar uma opinião sobre determinado assunto.
Esse comportamento visto nas redes é cada vez mais refletido nos relacionamentos para além das telas. É exatamente nessa transição entre a experiência virtual e a vida real que se revelam os impasses sobre a cultura do cancelamento. Afinal, o cancelamento atinge seus objetivos e promove mudança? Pessoas tornam-se mais sensíveis às causas que motivaram seu cancelamento? As respostas devem conter um tanto de sim e de não, e instigam a reflexão de que talvez estejamos cada vez menos propensos ao diálogo e à contraposição de ideias, fundamentais para a construção de qualquer projeto coletivo democrático. Além disso, a atual situação de pandemia especialmente nos vulnerabiliza, aflora os ânimos e nos torna mais permeáveis a julgamentos instantâneos nesse momento. O risco é enfraquecer debates importantes sob a ilusão de que ao se cancelar alguém o que ela representa encerrouse junto.
(Filipe batista - https://bityli.com/7vxX6)
O texto, pelo seu objetivo sociocomunicativo e pelas suas características linguísticas e formais, é:
Texto
Movimento que ganhou força nas redes sociais, a cultura do cancelamento descreve uma forma de denúncia, crítica e boicote a um indivíduo, geralmente artista, celebridade, político ou personalidade pública, cuja opinião ou atitude são consideradas ofensivas, preconceituosas, controversas ou inaceitáveis. Mesmo se você não for muito ativo nas mídias sociais, provavelmente já experimentou a repentina onda de medo quando percebe que disse algo que não deveria - e alguém notou. Essa aflição não ocorre à toa. Um deslize nas redes e você é cancelado. Seu erro, de repente, parece grave e irreparável, talvez possa custar seu emprego, afetar toda a sua vida e trazer consequências por anos. O termo cancelar, que antes se referia a produtos ou serviços, agora passa a ser usado também para pessoas. Impossível resistir à reflexão de que talvez estejamos empregando para nossas relações interpessoais as mesmas práticas utilitaristas adotadas pela sociedade de consumo. (...)
Embora as variantes históricas do que hoje chamamos de cultura do cancelamento funcionem há muito como ferramenta de reivindicação por justiça e necessidade de reforma, o fenômeno atual ganha contornos específicos. Alguns dos movimentos coletivos mais importantes dos últimos anos transcorreram na esteira da cultura do cancelamento, quando pautas de combate às desigualdades sociais, raciais e de gênero puderam ganhar maior visibilidade. Fizeram parte desse processo movimentos como #metoo e #blacklivesmatter, que aprofundaram o debate na polis ao denunciar casos de abuso sexual e de racismo, respectivamente. A questão, contudo, não é simples e, paradoxalmente, o resultado da cultura do cancelamento pode ser oposto ao que se pretende, aumentando a visibilidade do cancelado. Ademais, o ato de simplesmente cancelar pode esvaziar o debate político, ao gerar a ilusão de que o problema deixou de existir.
Pode-se questionar ainda qual o destino daquele que foi cancelado. Há indícios fortes para acreditarmos que o mero banimento virtual não seja capaz de promover transformações favoráveis sólidas. O ressentimento advindo do cancelamento pode fortalecer nas redes movimentos conservadores ou extremistas, dispostos a contestar o cancelamento - e cancelar quem cancelou. Portanto, o banimento por determinado grupo pode significar adesão por parte de outro, alimentando relações que contemplam cada vez menos as nuances e o contraditório. O cancelamento alimenta-se de uma métrica severa e intolerante ao erro, que em algum momento recairá também sobre quem o pratica, afinal, quem nunca falhou? Nesse cenário, sobra pouco espaço para o arrependimento e o debate frequentemente cede lugar ao revanchismo, acusação e certeza cega.
A escassez de produção de dúvida, própria do comportamento em massa visto nas mídias sociais, não abre espaço para o debate mais aprofundado e verdades absolutas - como se elas existissem - são facilmente absorvidas. O fenômeno é rapidamente propagado e amplificado nos espaços virtuais, que proporcionam a ilusão de anonimato e a facilidade de denunciar ou cancelar alguém com um simples clique. Soma-se isso à urgência de que cada um posicionese a respeito de qualquer tema, ainda que não se tenha informação ou tempo suficientes para formar uma opinião sobre determinado assunto.
Esse comportamento visto nas redes é cada vez mais refletido nos relacionamentos para além das telas. É exatamente nessa transição entre a experiência virtual e a vida real que se revelam os impasses sobre a cultura do cancelamento. Afinal, o cancelamento atinge seus objetivos e promove mudança? Pessoas tornam-se mais sensíveis às causas que motivaram seu cancelamento? As respostas devem conter um tanto de sim e de não, e instigam a reflexão de que talvez estejamos cada vez menos propensos ao diálogo e à contraposição de ideias, fundamentais para a construção de qualquer projeto coletivo democrático. Além disso, a atual situação de pandemia especialmente nos vulnerabiliza, aflora os ânimos e nos torna mais permeáveis a julgamentos instantâneos nesse momento. O risco é enfraquecer debates importantes sob a ilusão de que ao se cancelar alguém o que ela representa encerrouse junto.
(Filipe batista - https://bityli.com/7vxX6)
Os conectores ou conectivos argumentativos, no texto, têm a função de estabelecer relações de sentido entre orações e períodos.
Assinale a alternativa em que o conectivo destacado indica acréscimo de um argumento ao período anterior.
Texto 4
Texto 5
Após a análise dos textos 4 e 5, julgue os comentários seguintes:
I. Os textos 4 e 5, apesar de utilizarem linguagens diferentes, recorrem a mesma representação metafórica de seus referentes para a construção da mensagem.
II. Tanto o autor do anúncio publicitário, na retratação do modelo humano, quanto Banksy, na composição do brinquedo na mão da criança, recorrem a elementos caracterizadores que especificam suas personagens e reforçam a mensagem.
III. A identificação do contexto social em que as duas obras foram produzidas é fundamental para a compreensão de seus objetivos sociocomunicativos.
Assinale a alternativa correta:
Texto
Nesta quarta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reuniu a imprensa para falar sobre a pandemia do coronavírus. Durante esclarecimentos relacionados ao Covid-19, o político por diversas vezes chegou a se confundir com o manuseio da máscara em seu rosto. Após ele errar a utilização do item descartável, o humorista Marcelo Adnet resolveu ironizar a situação.
Adnet gravou um vídeo de máscara imitando Bolsonaro, fazendo os mesmos gestos que o presidente fez no encontro desta tarde com os jornalistas. "Muito bem. Então esclarecendo: não há motivo de pânico nisso [coronavírus] daí. Tudo sob controle", brincou o comediante.
(Leia Já - https://bityli.com/LSaxC)
Os textos dialogam entre si formando uma teia a que chamamos de intertextualidade. Esses diálogos, de acordo com os objetivos dos autores, recebem classificações diferentes. Conforme o texto 6, Marcelo Adnet, a partir de um encontro do presidente com a imprensa, gravou um vídeo no qual recriou com ironia e zombaria o comportamento do chefe de Estado na reunião.
Considerando essas informações, podemos inferir que o comediante realizou:
Texto 6
Texto 7
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que não tem "nenhum problema" com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). Segundo ele, as divergências entre as recomendações do ministério da Saúde e sua participação em manifestações populares no último domingo (15), durante a crise do coronavírus, seriam uma "pregação" de parte da imprensa. "Repito o que diz o nosso ministro da Saúde, com o qual não tenho nenhum problema com ele, diferentemente do que parte da mídia ainda prega", iniciou o presidente, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (18), no Palácio do Planalto com a presença de seus principais ministros. Mandetta estava sentado ao lado de Bolsonaro. (...)
Em sua fala, Mandetta adotou um tom elogioso em relação a Bolsonaro e disse que o momento é de calma.
"O momento é de calma. Nós vamos passar, teremos dias difíceis. O Brasil já passou por momentos mais dramáticos do que esse na sua história", disse o ministro.
"O presidente é o grande timoneiro desse barco", afirmou Mandetta.
(encurtador.com.br/ksCFX)
Texto 8
A leitura dos textos 6, 7 e 8 nos autoriza a considerar corretos os seguintes comentários:
I. Os textos 6 e 7 apresentam informações fundamentais à reconstrução do contexto em que o texto 8 foi produzido. A necessidade de recuperação desse contexto de produção é fundamental à compreensão do gênero textual charge.
II. No texto 8, a expressão “timoneiro”, usada metaforicamente, mantem o ponto de vista elogioso expresso pelo ministro, no texto 7, à condução do país, no período de pandemia, pelo presidente.
III. Os elementos não verbais do texto 8 atribuem à expressão “grande timoneiro” caráter irônico, reforçando a natureza crítica e social do gênero charge.
IV. No texto 7, as citações ampliam as informações que as antecedem e evidenciam a predominância da função referencial da linguagem.
Estão corretas: