Chuva de honestidade
Quando o ronco feroz do carro-pipa
Cobre a força do aboio do vaqueiro,
Quando o gado berrando no terreiro
Se despede da vida do peão...
Quando verde eu procuro pelo chão,
Não encontro mais nem mandacaru,
Dá tristeza ter que viver no Sul
Pra morrer de saudades do sertão.
Eu sei que a chuva é pouca e que o chão é quente,
Mas tem mão boba enganando a gente,
Secando o verde da irrigação.
Não, eu não quero enchentes de caridade,
Só quero chuva de honestidade.
Molhando as terras do meu sertão.
Eu pensei que tivesse resolvida
Essa forma de vida tão medonha,
Mas ainda me matam de vergonha
Os currais, coronéis e suas cercas.
Eu pensei nunca mais sofrer da seca
No Nordeste do século vinte e um,
Onde até o voo troncho de um anum
Fez progressos e teve evolução.
[...]
Israel é mais seco que o Nordeste,
No entanto se investe de fartura,
Dando força total à agricultura,
Faz brotar folha verde no deserto.
Dá pra ver que o desmando aqui é certo,
Sobra voto, mas falta competência
Pra tirar das cacimbas da ciência
Água doce que regue a plantação. [...]
LEANDRO, Flávio (comp.) Chuva de honestidade. Disponível em:https://www. letras.mus.br/flavio-leandro/chuva-de-honestidade/. Acesso em: 11 set. 2021.
Considerando-se o contexto em que estão inseridos os elementos linguísticos presentes na tessitura do poemacanção em análise, é correto afirmar: