Leia o trecho do conto “Mundo, não aborreça”, de Dalton Trevisan, para responder à questão.
Me diga, você. Me dê um só motivo pra querer a morte de Cecília. Se era o sustento da casa. Ganhava mais do que eu. Não tinha seguro de vida. Nem herança pra deixar.
Ela me pediu. Fervesse a água e botasse a garrafa de plástico nos pés, estava morrendo de frio. Daí dormimos. Meio da noite rebenta a garrafa. Queimou todo o seu pé direito. E a perna soltava uma pele negra. Fomos de táxi ao pronto-socorro. Feito o curativo, nos mandaram pra casa. Não fosse a maldita diabete…
Quem dela cuidou por dez anos? Sim, dez anos esteve doente. Não é verdade que a maltratasse. Ou deixei de acudir esse tempo todo. Imagine largar na desgraça a única irmã. Lidei com essa ferida na perna por dez anos.
Ceci ganhava mais do que eu. Fornecia a casa e me ajudou na precisão. Agora fiquei sozinha e abandonada.
Bem que ela teve assistência médica. E quem a valeu todos os dias? Serviu de enfermeira? Sempre ao seu lado. Sem descanso nem sossego. Exausta, cabeceando numa cadeira dura.
(O maníaco do olho verde, 2008.)
“Fomos de táxi ao pronto-socorro. Feito o curativo, nos mandaram pra casa.”
O trecho em destaque pode ser substituído, respeitando-se o contexto, por: