TEXTO:
É inegável o caráter plural do brasileiro em
função da mestiçagem de seu povo, pano de fundo
das expressões culturais mais diversas ao longo do
território brasileiro. Poderia parecer fácil e sem
[5] obstáculos falar a respeito de diversidade em um país
mestiço, como o Brasil. No entanto, à qual diversidade
nos referimos?
Segundo Sueli Carneiro, líder e ativista de
movimentos de direitos dos negros e pertencente ao
[10] Conselho Deliberativo da Care Brasil, “o primeiro
receio que o debate sobre a diversidade provoca é
que se preste à despolitização dos processos de
exclusão e discriminação que os ‘diferentes’ sofrem
em nossa sociedade, ou seja, a forma pela qual
[15] historicamente esse ‘diferente’ vem sendo construído,
em oposição a uma universalidade cultural branca e
ocidental, supostamente legítima para se instituir como
paradigma, segundo o qual a identidade ou a diferença
dos diversos povos da terra sejam medidas.”
[20] Essas questões vêm à tona quando falamos de
diversidade como sinônimo de diferença. As
diferenças físicas, étnicas, culturais, de gênero, etárias
são um fato, mas não são o foco da discussão. O
ponto crucial do debate sobre diversidade é a
[25] percepção, a reflexão e a atuação sobre os
mecanismos sociais que transformam as diferenças
em desigualdade, a ponto de apagar a realidade da
igualdade na diferença.
Propõe-se, portanto, que diversidade seja
[30] compreendida como um valor, em que estão
implicadas e articuladas as seguintes ideias: de
igualdade na diferença, de diferença na igualdade, de
diferença socialmente transformada em desigualdade.
Igualdade na diferença significa valorizar a
[35] humanidade que provém de todo e qualquer indivíduo,
base da ideia de direitos humanos.
Diferença na igualdade define que as
peculiaridades das pessoas devem ser reconhecidas,
à medida que impliquem adaptações para
[40] que sua participação social seja efetivada. Essa idea
está na base do surgimento do conceito de
diversidade.
Diferença socialmente transformada em
desigualdade visa ao resgate dos direitos humanos e
[45] à valorização da diferença como formas de
desconstruir a desigualdade. Essa é a base que
fundamenta a prática da diversidade como valor.
Por anos viveu-se a hegemonia dos iguais,
ficando difícil romper com essa visão e perceber que
[50] a diversidade não é problema. A promoção da
diversidade como valor é a condição que viabiliza o
surgimento do novo. Costuma-se colocar o “diferente”
na figura do outro, que se torna um dessemelhante. É
necessário que se perceba que todos somos]
[55] diferentes. “Não há um lugar ‘normal’ de onde se olha
a humanidade à procura dos ‘outros’. Somos todos
diversos e promover a diversidade é valorizar essa
condição” (Políticas da Diversidade em Portugal).
É necessário ir além da constatação de que
[60] somos todos diferentes. É preciso localizar e corrigir
as distorções minorando ou eliminando os mecanismos
produtores de desigualdade.
Não se trata de fazer ufania das diferenças,
desconsiderando-se os critérios de competência e
[65] habilidades pessoais. Ao contrário, trata-se de detectar
aqueles talentos socialmente emudecidos, para que
todos ganhem com a convivência e participem da
promoção incondicional da diversidade como valor.
A diversidade como valor em uma sociedade inclusiva. Sistema Sorri. Disponível em: http://sorri.com.br/diversidade_como_valor. Acesso em: 22 maio 2018. Adaptado.
“Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza.” (Boaventura de Souza Santos, 2006, p. 316)
A passagem do texto que mantém distância interpretativa com o pensamento destacado está em