Leia o texto abaixo:
Pelo respeito às concordâncias nominal e verbal, o voto é sim. Como registrou Marquês de Maricá:
"A virtude aromatiza e purifica o ar, os vícios o corrompem."
Pelo respeito ao verbo – talvez irônico – auxiliar e no plural, o voto é sim. Ah! Que saudade de Alexandre Herculano:
"(...) os ódios civis, as ambições, a ousadia dos bandos e a corrupção dos costumes haviam feito incríveis progressos."
Pelo respeito à expressão "cada um de" e plural, é preciso que o verbo fique no singular:
"Cada um dos deputados deve respeitar o seu tempo na votação." (e não devem!)
Pelo respeito ao verbo haver – no sentido de existir –, é preciso que o verbo esteja no singular:
"Senhor Presidente, houve votos prolongados!" (e não houveram!)
Pelo respeito ao verbo ter e sua jamais relação de existência:
"Houve ou não houve um golpe?" (e não teve!)
Pela concordância ao verbo ser (nas designações de datas, horas, distâncias), é preciso concordar sim:
"Vossa Excelência, já são onze horas!" (e não é onze horas!)
Pelo respeito à representatividade de um cargo, é preciso pensar na existência da Língua; é preciso pensar na Palavra; é preciso pensar na existência de determinantes de singular ou plural; é preciso pensar no significado do discurso, no encadeamento do que forma um determinado texto; é preciso pensar em quem recebe a mensagem. É preciso pensar.
É com o sentimento de uma tristeza semianalfabética que reconhecemos um verdadeiro impeachment gramatical.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/os-erros-de-portuguesque-marcaram-a-votacao-do-impeachment>. Acesso em: 04/05/2015
Esse texto foi publicado logo após a sessão da Câmara dos Deputados que votou a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. De acordo com seu autor, fica implícita a ideia de que