Combater fome no Brasil com insetos é ideia extrema, dizem cientistas
(1) As Nações Unidas recomendam: o consumo de insetos e as florestas onde eles vivem são
ferramentas de combate à fome. O assunto está na pauta da Conferência da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que começa neste sábado (15/06), em Roma.
(2) Mas essa proposta esbarra em uma questão cultural e, no Brasil, a viabilidade é questionável. “O México vende gafanhotos em lata. Na China, tem churrasco de escorpião. Para nós, brasileiros, é difícil. Vai ser complicado. Vai demorar alguns anos”, comenta a bióloga Waleska Bretas, da Univale, em Minas Gerais. A mudança de padrão no Brasil ocorreria “só mesmo em caso de necessidade extrema ou costume”, avalia Bretas. “Como em algumas populações indígenas da Amazônia, que já comem larvas de coqueiros e besouros”, adiciona.
(3) Existem, no entanto, outras maneiras de usar a floresta como aliada para alimentar a população, defende Yeda Maria Malheiros, pesquisadora da Embrapa há 35 anos, no Paraná. “E estamos perto de uma revolução”, afirma. A solução que o Brasil testa é integrar as matas e as áreas cultiváveis para produzir comida sem degradar o meio ambiente.
(4) Para Yeda, a solução pode estar no programa Integração Lavoura‐Pecuária‐Floresta (ILPF), que incentiva produtores rurais a cultivar de forma sustentável na própria terra. A lei foi sancionada em abril deste ano e passa a valer a partir de novembro. O programa quer, na verdade, manter a agricultura e evitar que a mata nativa se acabe – uma forma indireta de usar as florestas no combate à fome. Na visão da Embrapa, essa é a resposta do Brasil frente à crescente demanda mundial por alimentos.
(5) Embora reconheça muitas vantagens no método, o engenheiro agrônomo Alexandre Sylvio acha difícil conciliar floresta e lavoura. “Isso seria mais viável para pequenas comunidades, aldeias. Não dá para sustentar São Paulo num sistema agroflorestal. O que é possível fazer é aumentar a produtividade sem desmatar mais. Já desmatamos o suficiente”, pondera.
(6) Outro problema na efetivação da agrofloresta seria a ausência de mão de obra rural. “Na década de 1950, tínhamos uma pessoa produzindo alimento para 20 pessoas. Hoje temos uma para 150. E na agrofloresta tudo tem que ser manual, e você produz menos. Se você produz menos, o preço dispara”, argumenta Alexandre.
(7) Historicamente, floresta e agricultura no Brasil têm problemas de convivência. No Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, parte da vegetação típica da região desapareceu. A paisagem foi modificada, mas gerou resultados econômicos para os agricultores. “O Cerrado suporta muita seca, tem frutas, bichos, só que em quantidade pequena. Como fonte de alimento, não atenderia a demanda que temos”, explica Nery Ribas, diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho.
(8) Pelas contas da União, o Brasil tem hoje 500 milhões de hectares de florestas, o que equivale a 56% do território nacional. Os biomas são diferentes, mas têm a mesma grandeza: uma variedade imensa de plantas e animais que poderiam servir de comida, principalmente para os moradores do campo. Além de toda essa diversidade, a estimativa é de que existam 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, onde poderia haver criação de gado e cultivos de todo tipo. Aos poucos, Yeda Malheiros acredita que esses espaços vão ser mais bem aproveitados e a monocultura vai deixar de ser prioridade diante de desafios maiores: matar a fome do mundo e evitar o caos do clima.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2013/06/1295073-combater-fome-no-brasil-com-insetos-e-ideia-extremadizem- cientistas.shtml. Acesso em: 15/06/2013. Adaptado
A respeito de alguns dos recursos linguísticos que promovem a coesão do Texto 1, considere as afirmativas a seguir.
I. As expressões “O assunto” (parágrafo 1) e “essa proposta” (parágrafo 2) referem‐se ao trecho introdutório: “o consumo de insetos e as florestas onde eles vivem são ferramentas de combate à fome”.
II. A referência a pontos de vista divergentes é evidenciada, também, por elementos que marcam essas contraposições, como, por exemplo, “Mas” (parágrafo 2) e “no entanto” (parágrafo 3).
III. Ao utilizar o termo “Embora” (parágrafo 5), o autor pretende apresentar consenso entre as opiniões defendidas no texto.
IV. O contraste entre passado e presente, como em “Na década de 1950” e “Hoje” (parágrafo 6), também serve para reforçar as diferenças de posicionamento em relação ao tema.
V. No trecho: “Yeda Malheiros acredita que esses espaços vão ser mais bem aproveitados” (parágrafo 8), o segmento destacado retoma “56% do território nacional” (parágrafo 8).
Estão CORRETAS, apenas: