TEXTO:
Os intelectuais e suas ideias
Quando se discute o papel do intelectual no Brasil,
nota-se, no discurso de Milton Santos, uma grande
coerência entre o que sugere como sendo o dever a ser
cumprido por todo intelectual brasileiro e o seu próprio
5 exemplo de grande pensador e militante das causas
humanas, em diferentes contextos econômicos, sociais,
políticos e culturais do Brasil.
Ao tratar dos elementos que considera
particularmente importantes nessa atuação, ressalta
10 que, em um mundo em que as ideias são um respaldo
necessário aos processos de reconstrução democrática,
os intelectuais apresentam um papel fundamental. No
entanto, destaca que, na atualidade, esses mesmos
intelectuais têm destinado seus esforços mais no sentido
15 de favorecer uma militância de discursos ambíguos e
momentâneos do que para um trabalho permanente e
gradual de conscientização coletiva.
“A prática do consumo gera um sentimento ilusório
de realização pessoal e isso garante a continuidade do
20 sistema lucrativo das grandes empresas”. Os
intelectuais, segundo Milton Santos, deveriam se esmerar
em fazer eco às reivindicações mais profundas das
populações carentes, no sentido de intervir nos projetos
políticos e sociais do país. Dessa forma, caberia a
25 eles oferecer à sociedade, por meio dos mais diversos
segmentos, organizados ou não (associações,
sindicatos, igrejas, partidos), uma profunda
reflexão social de sua própria realidade contraditória,
alertando-os sobre as possibilidades de um fazer político
30 que esteja condizente com as demandas e os interesses
sociais da maioria da população.
Talvez por essa imensa preocupação em relação
às intervenções que os intelectuais deveriam carregar
como princípio de sua práxis, nosso pesquisador
35 brasileiro define que, para ele, intelectual é o indivíduo
que tem um compromisso único com a verdade e que
está muito mais preocupado com o prestígio do que
com o poder.
Se entender que o mundo de hoje é um problema
40 para os intelectuais brasileiros, o nosso prêmio Nobel
da Geografia Brasileira observou que nas teses, de um
modo geral, de praticamente todos os centros e
faculdades, o mundo é quase ignorado. E estudar o
mundo é, segundo ele, trabalhar com o “como” ensinar
45 à população sobre o que é o mundo, quais são as
relações que comandam a vida nacional, como é que
os fenômenos sociais e econômicos se realizam, por
meio de um discurso crítico e não de uma mera análise.
Talvez uma das maiores contribuições da filosofia
50 seja a de ajudar a resgatar a liberdade humana. Segundo
Flusser, a filosofia é necessária porque, mesmo em um
mundo programado por grandes blocos econômicos, ela
traz o exercício do pensar sobre o significado que cada
homem pode dar à sua própria vida e, ao mesmo tempo,
55 consegue apontar para um caminho de liberdade.
Nesse papel filosófico, não apenas do intelectual,
mas também da própria universidade, cabe a construção
de uma visão abrangente e dinâmica do que é o mundo,
do que é o país, do que é o lugar, e o papel de denúncia,
60 isto é, de proclamação clara do que é o mundo, o país,
e o lugar, dizendo tudo isso em voz alta. Essa crítica é
o próprio trabalho do intelectual e poderia ser o trabalho
do professor e do pesquisador.
VENÂNCIO, Adriana. Os intelectuais e suas ideias. Globalização e reorganização histórica. Portal Ciência e Vida. Disponível em: . Acesso em: 13 jun. 2013.
“Quando se discute o papel do intelectual no Brasil, nota-se no discurso de Milton Santos uma grande coerência entre o que sugere como sendo o dever a ser cumprido por todo intelectual brasileiro e o seu próprio exemplo de grande pensador e militante das causas humanas, em diferentes contextos econômicos, sociais, políticos e culturais do Brasil.” (l. 1-7)
Sobre o fragmento em destaque, é verdadeiro o que se afirma em