Leia o texto de Gerald Ramsey para responder à questão.
Imagine… que acorda de manhã. As suas pernas não são compridas o suficiente para tocar o chão de madeira do seu quarto. Esfregando os olhos de sono, você caminha para o banheiro e sobe no pequeno tamborete, erguendo o olhar para o espelho retangular. Você chora por dentro ao defrontar-se com uma menina de cabelos medianamente longos, ao invés do garoto de cabelos curtos que vive nos seus sonhos. A sua angústia cresce quando você senta na privada. É verdade que por vezes você urina de pé, mas não é muito prático e você receia ser apanhada novamente pela sua mãe.
Hoje é domingo, e sua família espera que você se vista para ir à igreja. É o único dia da semana em que é obrigada a usar um vestido. Você vasculha o guarda-roupas, indo de uma triste escolha a outra. Antes de dar por isso, está chorando novamente. Sua mãe logo irá subir e começarão a discutir. Você dirá que não tem nada para vestir, e ela responderá que tem lindas roupas. “Os vestidos são lindos”, você diz a si mesma, “mas não quando eu visto”.
O seu único refúgio são os seus sonhos e fantasias, e também eles começam a frustrá-la. Entre as suas fantasias preferidas estão caçar com seu pai, jogar bola com os colegas no time da escola, lutar com os outros rapazes até se sujar todo (e vencer, e voltar a casa com cheiro de sujeira nas roupas), e ser um advogado criminal (e após cada caso o juiz dirá, “Meu jovem, como advogado você honrou a barra deste tribunal”).
Agora você tem doze anos e há não muito tempo ficou histérico, depois envergonhadíssimo, quando começou a menstruar. Como se já não bastasse, os seus seios estão crescendo e você tem atraído mais atenção do que nunca, já que foi abençoado com seios grandes. Agora, quando joga futebol, os garotos arranjam desculpas para se chocar com você e agarrá-lo…
(Transexuais: perguntas e respostas, 1998. Adaptado.)
O autor utiliza o recurso expressivo da ironia em: