A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um exemplo meridiano do papel dos mitos nas ciências sociais: (l. 01-02)
O trecho introduzido pelos dois-pontos, após a sequência acima, tem valor de:
A PROFECIA DO COLAPSO
A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um exemplo do papel
dos mitos nas ciências sociais: pelo menos 90 por cento dela se funda na ideia, que se dá por evidente,
segundo a qual o desenvolvimento econômico, tal qual vem sendo praticado pelos países que lideram a
revolução industrial, pode ser universalizado. Mais precisamente: pretende-se que o padrão de consumo da
[5] maioria da humanidade, que atualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de
população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo. Essa ideia constitui, seguramente,
uma prolongação do mito do progresso, elemento essencial na ideologia diretora da revolução burguesa,
dentro da qual se criou a atual sociedade industrial.
As grandes metrópoles modernas — com seu ar irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos
[10] serviços públicos, fuga da juventude na anticultura — tornaram-se um pesadelo no sonho de progresso
linear em que se embalavam os teóricos do crescimento. Menos atenção ainda se havia dado ao impacto
no meio físico de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satisfazer interesses privados. Daí a
irritação, provocada entre muitos economistas, pelo estudo “Os limites do crescimento”, preparado por um
grupo interdisciplinar, no MIT, para o Clube de Roma.
[15] Graças a ele, foram trazidos para o primeiro plano da discussão problemas cruciais que os economistas
do desenvolvimento econômico trataram sempre de deixar na sombra. Pela primeira vez, dispomos de
um conjunto de dados representativos de aspectos fundamentais da estrutura e de algumas tendências
gerais daquilo que se começa a chamar de sistema econômico planetário. Mais ainda: dispomos de um
conjunto de informações que nos permitem formular algumas questões de fundo relacionadas com o
[20] futuro dos chamados países subdesenvolvidos.
Não se encontra qualquer preocupação com respeito à crescente dependência dos países altamente
industrializados vis-à-vis dos recursos naturais dos demais países, e muito menos com as consequências
para estes últimos do uso predatório de tais recursos, pelos primeiros. A novidade está em que o sistema
pôde ser fechado em escala planetária, numa primeira aproximação, no que concerne aos recursos não
[25] renováveis. Uma vez fechado o sistema, os autores do estudo se formularam a seguinte questão: o que
acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da
terra, chega efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida dos povos ricos chegam
efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse,
a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou,
[30] alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial
entraria necessariamente em colapso.
CELSO FURTADO Adaptado de O Mito do Desenvolvimento Econômico. Círculo do Livro, São Paulo: 1974.
No primeiro parágrafo, a expressão que se dá por evidente (l. 02) revela um posicionamento do autor em relação aos mitos.
Esse posicionamento se caracteriza por:
A PROFECIA DO COLAPSO
A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um exemplo do papel
dos mitos nas ciências sociais: pelo menos 90 por cento dela se funda na ideia, que se dá por evidente,
segundo a qual o desenvolvimento econômico, tal qual vem sendo praticado pelos países que lideram a
revolução industrial, pode ser universalizado. Mais precisamente: pretende-se que o padrão de consumo da
[5] maioria da humanidade, que atualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de
população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo. Essa ideia constitui, seguramente,
uma prolongação do mito do progresso, elemento essencial na ideologia diretora da revolução burguesa,
dentro da qual se criou a atual sociedade industrial.
As grandes metrópoles modernas — com seu ar irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos
[10] serviços públicos, fuga da juventude na anticultura — tornaram-se um pesadelo no sonho de progresso
linear em que se embalavam os teóricos do crescimento. Menos atenção ainda se havia dado ao impacto
no meio físico de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satisfazer interesses privados. Daí a
irritação, provocada entre muitos economistas, pelo estudo “Os limites do crescimento”, preparado por um
grupo interdisciplinar, no MIT, para o Clube de Roma.
[15] Graças a ele, foram trazidos para o primeiro plano da discussão problemas cruciais que os economistas
do desenvolvimento econômico trataram sempre de deixar na sombra. Pela primeira vez, dispomos de
um conjunto de dados representativos de aspectos fundamentais da estrutura e de algumas tendências
gerais daquilo que se começa a chamar de sistema econômico planetário. Mais ainda: dispomos de um
conjunto de informações que nos permitem formular algumas questões de fundo relacionadas com o
[20] futuro dos chamados países subdesenvolvidos.
Não se encontra qualquer preocupação com respeito à crescente dependência dos países altamente
industrializados vis-à-vis dos recursos naturais dos demais países, e muito menos com as consequências
para estes últimos do uso predatório de tais recursos, pelos primeiros. A novidade está em que o sistema
pôde ser fechado em escala planetária, numa primeira aproximação, no que concerne aos recursos não
[25] renováveis. Uma vez fechado o sistema, os autores do estudo se formularam a seguinte questão: o que
acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da
terra, chega efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida dos povos ricos chegam
efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse,
a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou,
[30] alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial
entraria necessariamente em colapso.
CELSO FURTADO Adaptado de O Mito do Desenvolvimento Econômico. Círculo do Livro, São Paulo: 1974.
As grandes metrópoles modernas — com seu ar irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos serviços públicos, fuga da juventude na anticultura — tornaram-se um pesadelo no sonho de progresso linear em que se embalavam os teóricos do crescimento. (l. 09-11)
No trecho destacado, identifica-se a seguinte figura de linguagem:
A PROFECIA DO COLAPSO
A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um exemplo do papel
dos mitos nas ciências sociais: pelo menos 90 por cento dela se funda na ideia, que se dá por evidente,
segundo a qual o desenvolvimento econômico, tal qual vem sendo praticado pelos países que lideram a
revolução industrial, pode ser universalizado. Mais precisamente: pretende-se que o padrão de consumo da
[5] maioria da humanidade, que atualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de
população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo. Essa ideia constitui, seguramente,
uma prolongação do mito do progresso, elemento essencial na ideologia diretora da revolução burguesa,
dentro da qual se criou a atual sociedade industrial.
As grandes metrópoles modernas — com seu ar irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos
[10] serviços públicos, fuga da juventude na anticultura — tornaram-se um pesadelo no sonho de progresso
linear em que se embalavam os teóricos do crescimento. Menos atenção ainda se havia dado ao impacto
no meio físico de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satisfazer interesses privados. Daí a
irritação, provocada entre muitos economistas, pelo estudo “Os limites do crescimento”, preparado por um
grupo interdisciplinar, no MIT, para o Clube de Roma.
[15] Graças a ele, foram trazidos para o primeiro plano da discussão problemas cruciais que os economistas
do desenvolvimento econômico trataram sempre de deixar na sombra. Pela primeira vez, dispomos de
um conjunto de dados representativos de aspectos fundamentais da estrutura e de algumas tendências
gerais daquilo que se começa a chamar de sistema econômico planetário. Mais ainda: dispomos de um
conjunto de informações que nos permitem formular algumas questões de fundo relacionadas com o
[20] futuro dos chamados países subdesenvolvidos.
Não se encontra qualquer preocupação com respeito à crescente dependência dos países altamente
industrializados vis-à-vis dos recursos naturais dos demais países, e muito menos com as consequências
para estes últimos do uso predatório de tais recursos, pelos primeiros. A novidade está em que o sistema
pôde ser fechado em escala planetária, numa primeira aproximação, no que concerne aos recursos não
[25] renováveis. Uma vez fechado o sistema, os autores do estudo se formularam a seguinte questão: o que
acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da
terra, chega efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida dos povos ricos chegam
efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse,
a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou,
[30] alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial
entraria necessariamente em colapso.
CELSO FURTADO Adaptado de O Mito do Desenvolvimento Econômico. Círculo do Livro, São Paulo: 1974.
A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades (l. 28)
No trecho, ao caracterizar a resposta, o autor assume um tom:
e muito menos com as consequências para estes últimos do uso predatório de tais recursos, pelos primeiros. (l. 22-23)
No parágrafo, os elementos “últimos” e “primeiros” assumem a função textual de retomada, remetendo, respectivamente, às seguintes expressões:
TEXTO
temos que escrever mais tirinhas reflexivas
No trecho acima, o emprego da primeira pessoa do plural abrange: