Para responder à questão, examine a charge do cartunista Tim O’Brien, publicada no Instagram por CartoonStock, em 27.05.2021.
Contribui decisivamente para o efeito de humor da charge o recurso à seguinte figura de linguagem:
Para responder à questão, examine a charge do cartunista Tim O’Brien, publicada no Instagram por CartoonStock, em 27.05.2021.
Em sua charge, o cartunista explora uma ideia que também está presente no ditado popular:
Considere o trecho do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, para responder à questão.
E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo. [...]
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa1, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum2 de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher [Estela, sua esposa], isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana3, era ainda a prosperidade do vizinho [João Romão, dono da venda, do cortiço e da pedreira] o que lhe obsedava o espírito [...].
Mas então, ele, Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele, que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude! Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vítima ridícula e sofredora!... [...]
— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se havia recolhido inutilmente. [...]
— Fui uma besta! repisava ele, sem conseguir conformar-se com a felicidade do vendeiro. Uma grandíssima besta! No fim de contas que diabo possuo eu?... Uma casa de negócio, da qual não posso separar-me sem comprometer o que lá está enterrado! um capital metido numa rede de transações que não se liquidam nunca, e cada vez mais se complicam e mais me grudam ao estupor desta terra, onde deixarei a casca!
(O cortiço, 2016.)
1 preguiçosa: cadeira de encosto reclinado com lugar para estender as pernas.
2 fartum: odor desagradável de alguns animais.
3 tramontana: rumo.
Ao se transpor o trecho “— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se havia recolhido inutilmente.” (5º parágrafo) para o discurso indireto, o termo sublinhado assume a seguinte redação:
Considere o trecho do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, para responder à questão.
E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo. [...]
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa1, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum2 de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher [Estela, sua esposa], isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana3, era ainda a prosperidade do vizinho [João Romão, dono da venda, do cortiço e da pedreira] o que lhe obsedava o espírito [...].
Mas então, ele, Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele, que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude! Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vítima ridícula e sofredora!... [...]
— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se havia recolhido inutilmente. [...]
— Fui uma besta! repisava ele, sem conseguir conformar-se com a felicidade do vendeiro. Uma grandíssima besta! No fim de contas que diabo possuo eu?... Uma casa de negócio, da qual não posso separar-me sem comprometer o que lá está enterrado! um capital metido numa rede de transações que não se liquidam nunca, e cada vez mais se complicam e mais me grudam ao estupor desta terra, onde deixarei a casca!
(O cortiço, 2016.)
1 preguiçosa: cadeira de encosto reclinado com lugar para estender as pernas.
2 fartum: odor desagradável de alguns animais.
3 tramontana: rumo.
No segundo parágrafo, os termos sublinhados constituem, respectivamente,
Leia o texto, extraído do livro Viva a língua brasileira!, de Sérgio Rodrigues, para responder à questão.
Personagem
O substantivo personagem, que um dia foi exclusivamente feminino, é cada vez mais — sobretudo no Brasil — compreendido como aquilo que chamam “comum de dois”, uma palavra invariável que pode ser masculina ou feminina conforme o caso.
Barbarismo? Erro crasso? Seria preciso ser extremamente conservador para condenar a esta altura algo que autores cultos vêm empregando há décadas e que todos os principais dicionários brasileiros e portugueses já aceitam: personagem é um substantivo de dois gêneros.
Se não cabe acusar de incorrer em erro quem, fiel ao uso clássico, diz que Bentinho é “uma personagem”, tampouco faz sentido condenar quem opta pelo uso moderno e distingue entre “o personagem Bentinho” e “a personagem Capitu”. Influência do francês?
Vinda do francês personnage — e portanto descendente do latim persona, inicialmente “máscara de teatro”, onde fomos buscar nosso substantivo pessoa —, a palavra teve seu gênero exclusivamente feminino defendido com ardor pelo influente gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida em seu Dicionário de questões vernáculas.
Para Napoleão, o personagem não passava de um francesismo, influência do francês le personnage. Talvez fosse mesmo. Como em tantas outras questões em que o purismo foi atropelado pela marcha da história, cabe perguntar: e daí?
(Viva a língua brasileira!, 2016.)
Depreende-se do texto que seu autor,
Leia o texto, extraído do livro Viva a língua brasileira!, de Sérgio Rodrigues, para responder à questão.
Personagem
O substantivo personagem, que um dia foi exclusivamente feminino, é cada vez mais — sobretudo no Brasil — compreendido como aquilo que chamam “comum de dois”, uma palavra invariável que pode ser masculina ou feminina conforme o caso.
Barbarismo? Erro crasso? Seria preciso ser extremamente conservador para condenar a esta altura algo que autores cultos vêm empregando há décadas e que todos os principais dicionários brasileiros e portugueses já aceitam: personagem é um substantivo de dois gêneros.
Se não cabe acusar de incorrer em erro quem, fiel ao uso clássico, diz que Bentinho é “uma personagem”, tampouco faz sentido condenar quem opta pelo uso moderno e distingue entre “o personagem Bentinho” e “a personagem Capitu”. Influência do francês?
Vinda do francês personnage — e portanto descendente do latim persona, inicialmente “máscara de teatro”, onde fomos buscar nosso substantivo pessoa —, a palavra teve seu gênero exclusivamente feminino defendido com ardor pelo influente gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida em seu Dicionário de questões vernáculas.
Para Napoleão, o personagem não passava de um francesismo, influência do francês le personnage. Talvez fosse mesmo. Como em tantas outras questões em que o purismo foi atropelado pela marcha da história, cabe perguntar: e daí?
(Viva a língua brasileira!, 2016.)
Verifica-se o emprego de voz passiva em: