Leia o trecho inicial do romance A cidade e as serras, de Eça de Queirós, para responder à questão.
O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.
[…]
Seu avô, aquele gordíssimo e riquíssimo Jacinto a quem chamavam em Lisboa o D. Galião, descendo uma tarde pela travessa da Trabuqueta, rente dum muro de quintal que uma parreira toldava, escorregou numa casca de laranja e desabou no lajedo. Da portinha da horta saía nesse momento um homem moreno, escanhoado1, de grosso casaco de baetão2 verde e botas altas de picador, que, galhofando3 e com uma força fácil, levantou o enorme Jacinto – até lhe apanhou a bengala de castão de ouro que rolara para o lixo. Depois, demorando nele os olhos pestanudos e pretos:
– Ó Jacinto Galião, que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas pedras?
E Jacinto, aturdido e deslumbrado, reconheceu o Sr. Infante D. Miguel!
Desde essa tarde amou aquele bom Infante como nunca amara, apesar de tão guloso, o seu ventre, e, apesar de tão devoto, o seu Deus! Na sala nobre da sua casa (à Pampulha) pendurou sobre os damascos4 o retrato do “seu Salvador”, enfeitado de palmitos como um retábulo5 e, por baixo, a bengala que as magnânimas mãos reais tinham erguido do lixo.
(A cidade e as serras, 2013. Adaptado.)
1 escanhoado: com barba feita.
2 baetão: agasalho de lã bem grossa.
3 galhofar: debochar, caçoar.
4 damasco: tecido de seda para enfeite.
5 retábulo: parte de um altar.
“Depois, demorando nele os olhos pestanudos e pretos:
– Ó Jacinto Galião, que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas pedras?”
Assinale a alternativa em que essa passagem está corretamente transposta para o discurso indireto.