Autoexposição adolescente
*Marion Minerbo
O Facebook existe para que a indústria de produção e consumo do Eu possa se expandir.
[1] Em 1967, Debord criou a expressão "sociedade
do espetáculo" para falar de um modo de vida no
qual a relação entre as pessoas é mediada por ima-
gens. A vida só é real quando se torna imagem -
[5] "se não tem foto, não aconteceu"; e a imagem é
mais real do que a vida: a "família margarina" é
mais família que a nossa. A visibilidade passa a ser
muito importante, porque ajuda a fazer as coisas
acontecerem.
[10] Na sociedade do espetáculo, aparecer é ter va-
lor: "quem aparece é bom, e quem é bom, apa-
rece". Embora a gente saiba que não é bem assim:
há pessoas talentosas, competentes e generosas
que não aparecem.
[15] A equação aparecer = ser bom acaba tendo efeitos
sobre o que sentimos que é bom e desejável, so-
bre o que nos torna felizes ou infelizes e sobre
nossos valores. Por isso, a necessidade de apare-
cer tem menos a ver com vaidade do que com o
[20] sentimento de existir aos olhos dos outros, de ser,
ter valor e poder.
Programas como o Facebook e muitos outros
recursos são desenvolvidos para que a indústria
da produção e consumo de imagens do Eu possa
[25] se expandir. Tudo vai virando espetáculo. Para-
doxalmente, até a intimidade. Isso nos ajuda a en-
tender a autoexposição de adolescentes na net.
Quando a necessidade de experimentar e testar
limites, típica da adolescência, se junta à necessi-
[30] dade de aparecer o máximo possível, típica da so-
ciedade do espetáculo, e ao fator tecnologia, a au-
toexibição se torna fenômeno cada vez mais fre-
quente.
O jovem tira a roupa diante da tweetcam para ser
[35] admirado por sua coragem e ousadia, atestada
pelo "número de seguidores". E, quem sabe, tor
nar tornar-se celebridade... Isso não lhe parece tão arris-
cado, não tanto por imaturidade, mas porque o
infinito da net é demais para sua (nossa) imagina-
[40] ção. É difícil conceber que a imagem de seu corpo
poderá ser acessada para sempre, a qualquer mo-
mento, por qualquer um, em qualquer lugar do
planeta. É difícil pensar que a autoexposição não
se limitará nem ao seu quarto, nem ao momento
[45] presente. Como calcular um risco que envolve
outra noção de tempo e espaço?
A sociedade do espetáculo oferece novas for-
mas de testar limites criando "ritos de passagem"
que estamos começando a conhecer. A autoexpo-
[50] sição adolescente nos deixa perplexos porque a
transgressão, que sempre foi feita às escondidas,
se tornou espetacular.
htt://www1.folha.uol.com.br.
* Psicanalista (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo).
Atenção: para responder à questão, considere o texto acima.
Conforme o texto, pode-se afirmar que:
I. O elemento que, em relação ao termo transgressão (l. 51), introduz uma explicação que pode ser dispensada sem prejuízo geral do sentido atribuído à palavra.
II. Facebook (l. 22) e tweetcam (l. 34) não são empréstimos linguísticos.
III. A palavra há, em “Há pessoas talentosas...” (l. 13), não possui agente desencadeador da ação devido ao verbo impessoal.
Está(ão) correta(s)