Mal fechei os olhos, o quarto foi invadido por um batalhão de enfermeiras e auxiliares perguntando-me se apresentava alguma alergia, queixa cardíaca, pulmonar, urinária ou digestiva. Enquanto respondia a uma delas, outra instalava o aparelho de pressão em meu braço, e uma terceira colocava o termômetro e enlaçava a pulseira de identidade. Um técnico do laboratório passou um garrote para colher sangue e ligar o frasco de soro: "Vou dar uma picadinha".
Foi o primeiro de uma série infindável de diminutivos que viriam a ser pronunciados. Achei graça porque me lembrei de meu sogro, engenheiro agrônomo que se orgulhava de ter passado a vida a abrir fazendas e a desbravar rincões longínquos. Quando esse homem à moda antiga saiu do centro cirúrgico depois de uma operação de catarata e lhe perguntei se havia sentido dor, respondeu: "Dor é o de menos; duro é ouvir 'Abre o olhinho', 'Fecha o olhinho', e ser obrigado a ficar quieto".
Deitado de camisola e pulseirinha, sem forças para agir por conta própria, cercado de gente que diz: "Vamos tomar um remedinho"; "Abre a boquinha"; "Levanta a perninha"... há maturidade que resista?
VARELLA, D. O médico doente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Adaptado.
O texto relaciona o emprego do diminutivo à