Leia o trecho inicial do poema “Como um presente”, do escritor Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Teu aniversário, no escuro,
não se comemora.
Escusa de levar-te esta gravata.
Já não tens roupa, nem precisas.
Numa toalha no espaço há o jantar,
mas teu jantar é silêncio, tua fome não come.
Não mais te peço a mão enrugada
para beijar-lhe as veias grossas.
Nem procuro nos olhos estriados
aquela interrogação: está chegando?
Em verdade paraste de fazer anos.
Não envelheces. O último retrato
vale para sempre. És um homem cansado
mas fiel: carteira de identidade.
Tua imobilidade é perfeita. Embora a chuva,
o desconforto deste chão. Mas sempre amaste
o duro, o relento, a falta. O frio sente-se
em mim que te visito. Em ti, a calma.
Como compraste calma? Não a tinhas.
Como aceitaste a noite? Madrugavas.
Teu cavalo corta o ar, guardo uma espora
de tua bota, um grito de teus lábios,
sinto em mim teu corpo cheio, tua faca,
tua pressa, teu estrondo… encadeados.
(A rosa do povo, 2012.)
Personificação: Figura de linguagem que consiste na atribuição de qualidades humanas a seres não humanos: animais, seres inanimados, ideias, entes abstratos, etc.
(Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa. www.infopedia.pt. Adaptado.)
O eu lírico lança mão desse recurso estilístico em: