Leia o trecho de um poema de Castro Alves, para responder à questão.
Mas que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras!
É canto funeral!... Que tétricas1 figuras!...
Que cena infame e vil... Meu Deus! meu Deus! Que horror!
Era um sonho dantesco... o tombadilho2
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
[...]
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante3 fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea4 tripudia?
Silêncio, Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão5 de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
(Antonio Carlos Secchin (org.). Romantismo, 2007.)
1 tétrico: que causa horror.
2 tombadilho: superestrutura erguida na popa de um navio, geralmente toda fechada e indo de um a outro bordo.
3 bacante: mulher licenciosa, depravada.
4 gávea: parte do mastro de um navio.
5 pendão: bandeira.
O trecho exemplifica uma vertente da poesia de Castro Alves, caracterizada