Zilda Arns, a empreendedora social
[1] Quis o destino que Zilda Arns morresse enquanto fazia uma palestra numa igreja no Haiti, o país mais pobre
da América Latina. Como disse seu irmão dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, “foi uma morte
bonita, pois ela morreu no cumprimento de uma causa na qual sempre acreditou”. O belo exemplo de Zilda Arns é
um conforto diante das imagens devastadoras de Porto Príncipe após o terremoto que assolou o país na terça-feira
[5] 12 e matou, segundo estimativas do governo local, pelo menos 100 mil pessoas. Nos 26 anos dedicados _____
Pastoral da Criança, a médica sanitarista revelou-se uma senhora empreendedora social, capaz de salvar milhões de
vidas de crianças pobres no Brasil e em mais de 20 países.
Sua fórmula de sucesso era simples, como geralmente são _____ ideias vencedoras no mundo dos negócios.
Uma empresa precisa conhecer o público-alvo, comunicar-se com ele de forma eficiente e oferecer o produto
[10] adequado. Zilda Arns fazia tudo isso: falava a língua dos pobres, era compreendida e mudava suas vidas ensinando
conceitos básicos de alimentação e cuidados diários das crianças. “Leite de mãe é vivo. Leite de mamadeira é
morto”, era seu slogan para estimular a amamentação. Seu principal produto, o soro caseiro, uma mistura de água,
sal e açúcar, era ensinado aos pais para o tratamento de desidratação e diarreia, provocando uma mudança de
hábitos salvadora nas comunidades pobres – muitas mães negavam água _____ crianças doentes, com medo de
[15] agravar a situação. Para convencê-las, Zilda Arns tinha uma estratégia de marketing infalível: regava flores murchas
com o soro no início das conversas e mostrava o resultado ao final, a volta do viço.
Em Florestópolis, cidade do Paraná onde começou o trabalho, morriam 127 bebês a cada mil nascidos vivos.
A taxa de mortalidade infantil caiu para 11 nas regiões atendidas pela Pastoral da Criança, abaixo da média nacional,
de 19,3 por mil. Gastando pouco, ela promoveu uma revolução na saúde e criou uma tecnologia de fácil exportação.
[20] O custo baixo dos projetos e sua simplicidade atraiu diferentes governos. Daí, sua última viagem, ao Haiti.
Como legado, Zilda Arns deixa uma instituição consolidada, com 1,5 milhão de famílias cadastradas em 42
mil comunidades carentes. Além de 108 mil gestantes, a Pastoral acompanha quase dois milhões de crianças de até
seis anos. Em qualquer fábrica, repetir a mesma tarefa com igual qualidade é essencial. O simples ato de pesar com
frequência meninos e meninas define correções em sua alimentação, garantindo a sobrevivência e saúde. A
[25] coordenadora não precisou ler manuais de administração para saber que o pós-venda é essencial para manter o
cliente. Nenhum líder transforma nada sozinho e ela sabia replicar seu trabalho. A Pastoral da Criança atua com 260
mil voluntários bem treinados. “Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua
transformação”, escreveu em seu último discurso. Zilda Arns não ganhou o Prêmio Nobel da Paz, mas será lembrada
para sempre. Sua obra continua viva.
(GAMEZ, Milton. Istoé Dinheiro, ano 12, n. 641, p. 90, 20 jan. 2010.)
Analise a veracidade (V) ou falsidade (F) das proposições abaixo.
( ) As lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com à (linha 05), as (linha 08) e as (linha 14).
( ) A regra que justifica a acentuação de país (linha 04) e de saúde (linha 24) é a mesma.
( ) O pronome onde (linha 17) poderia ser substituído pelo pronome que, pois fica mais próximo do que prescreve a norma e não compromete o sentido original do texto.
Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo.