TEXTO:
A atividade médica atualmente se defronta com três
grandes fontes de dificuldade. A primeira delas seria uma
mudança na forma de vínculo empregatício, em que a
figura tradicional e antiga do profissional liberal, com
[5] uma relação direta com seus pacientes particulares em
seu consultório, deu lugar a uma imensa maioria de
médicos empregados (no setor público e privado).
Eles têm que se desdobrar em inúmeros empregos;
e, apesar de terem uma clientela em seus consultórios,
[10] a relação com seus pacientes está intermediada pelos
vários seguros-saúde. O valor irrisório pago pelos
convênios determina, por vezes, até a escolha da
especialidade com uma preferência por aquelas que
exigem um tempo de atendimento menor ou aquelas
[15] que apresentam possibilidade de procedimentos após
as consultas.
Um crescente temor quanto à probabilidade de
sofrer algum tipo de processo por parte de pacientes e/
ou familiares vem gerando uma prática médica
[20] denominada “defensiva”. Esse tipo de atendimento se
pauta na indicação de exames e procedimentos, não
pela necessidade do paciente, mas pelo receio de alguma
acusação posterior de não tê-los prescrito, caso surja
algum problema.
[25] Nos Estados Unidos, essa prática exige que os
médicos se protejam contra processos por meio de
seguros cada vez mais onerosos, trazendo como
consequência a desistência de alguns especialistas de
prosseguirem em especialidades mais sujeitas a esse
[30] problema (como cirurgia plástica, anestesiologia,
neurocirurgia e outras).
Hoje, temos uma hegemonia do modelo médico,
que localiza na doença e não no doente seu objeto
de análise. Sua consequência é o distanciamento
[35] emocional entre o médico e paciente na crença de que,
se não for assim, a capacidade de raciocínio clínico e a
capacitação técnica (entendidas como prática científica)
estariam irremediavelmente comprometidas.
O resultado da soma de todos esses ingredientes
[40] é a insatisfação crescente de médicos e de pacientes.
Por um lado, os médicos que se sentem longe do ideal
da prática médica e, por outro, os pacientes que
percebem os médicos cada vez mais frios, distantes e
técnicos.
[45] É evidente que não se pretende que os médicos
sejam ingênuos e não saibam dos riscos inerentes à
sua profissão ou que abram mão de seu conhecimento
e de sua competência em nome de uma aproximação e
um envolvimento que recobririam uma incompetência ou
[50] mesmo um charlatanismo.
Do mesmo modo, há que se lutar por uma
remuneração justa. Afinal, não é pecado algum, após
tantos anos de estudo (que, aliás, devem se manter por
todo o tempo de carreira) querer ter uma vida digna.
[55] Entretanto nada impede que se associe à competência
e ao conhecimento a arte da Medicina (dedicar um tempo
a ouvir o doente, a conhecê-lo, traçar a terapêutica
específica para aquele doente que se conheceu, assim Questão 5
por diante). Assim, qualquer busca de uma remuneração
[60] maior em detrimento de uma prática competente não
será, a longo prazo, benéfica a ninguém.
A submissão pura e simples a esses impasses,
sem uma consciência e um questionamento dessa
realidade difícil, traz somente frustração para todos.
ZAIDHARFT, Sérgio. A saúde da prática médica atual. Disponível em:<http://www.olharvital.ufrj.br/ant/2005_11_10/materia_facesInt erfaces.htm>. Acesso em: 15 jan. 2015
Os prefixos que formam os derivados “irremediavelmente” (l. 38) e “recobririam” (l. 49) traduzem, respectivamente, as ideias de