Leia o texto a seguir.
SONETO DE UM DOMINGO
[1] Em casa há muita paz por um domingo assim.
[2] A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai...
[3] Esqueço de quem sou para sentir-me pai
[4] E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim,
[5] Um relógio bater, e outro dentro de mim...
[6] Olho o jardim úmido e agreste: isso distrai
[7] Vê-lo, feroz, florir mesmo onde o sol não vai
[8] A despeito do vento e da terra que é ruim.
[9] Na verdade é o infinito essa casa pequena
[10] Que me amortalha o sonho e abriga a desventura
[11] E a mão de uma mulher fez simples, pura e amena.
[12] Deus, que és pai como eu e a estimas, porventura:
[13] Quando for minha vez, dá-me que eu vá sem pena
[14] Levando apenas esse pouco que não dura.
MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Em “Quando for minha vez...” (linha 13) o verbo está R A S C U N H O flexionado no