Nessa situação, a repetição e o tom exclamativo da fala da minhoca destacam principalmente a seguinte característica da personagem:
Essa tentativa de desaparecimento da personagem é enfatizada pelo uso do seguinte recurso:
Essa fala deixa subentendida a intenção da personagem de:
Nós, escravocratas
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos:
o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em
agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no
Brasil.
[5] Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta.
É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios
Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva,
sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem
casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de
[10] qualidade.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos
escravocratas.
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da
família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.
[15] Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento
decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos,
escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos
que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez
[20] de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos
investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque
construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que
foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo
tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.
[25] A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o
trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão
ficou mais barata, e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos
escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os
sem educação.
[30] Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos
intelectuais e economistas comemoram
minúscula distribuição de renda, como antes os senhores
se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do
açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do
[35] tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do
analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia
da abolição plena.
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos
a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução
[40] educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras
que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a
escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque
continuamos escravocratas. E, ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos
condenados à falta de educação.
CRISTOVAM BUARQUE
Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no Brasil. (l. 2-4)
Na frase acima, Cristovam Buarque define Joaquim Nabuco de quatro maneiras. As três primeiras definições partem de determinadas pressuposições.
Uma pressuposição que se pode deduzir da leitura do fragmento é:
Nós, escravocratas
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos:
o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em
agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no
Brasil.
[5] Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta.
É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios
Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva,
sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem
casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de
[10] qualidade.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos
escravocratas.
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da
família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.
[15] Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento
decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos,
escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos
que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez
[20] de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos
investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque
construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que
foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo
tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.
[25] A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o
trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão
ficou mais barata, e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos
escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os
sem educação.
[30] Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos
intelectuais e economistas comemoram
minúscula distribuição de renda, como antes os senhores
se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do
açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do
[35] tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do
analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia
da abolição plena.
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos
a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução
[40] educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras
que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a
escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque
continuamos escravocratas. E, ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos
condenados à falta de educação.
CRISTOVAM BUARQUE
“Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão” (l. 5-6)
No início do texto, o autor cita entre aspas as frases de Joaquim Nabuco para, em seguida, se posicionar pessoalmente perante seu conteúdo.
Para o autor, a obra da escravidão caracteriza-se fundamentalmente por:
Nós, escravocratas
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos:
o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em
agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no
Brasil.
[5] Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta.
É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios
Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva,
sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem
casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de
[10] qualidade.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos
escravocratas.
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da
família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.
[15] Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento
decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos,
escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos
que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez
[20] de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos
investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque
construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que
foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo
tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.
[25] A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o
trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão
ficou mais barata, e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos
escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os
sem educação.
[30] Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos
intelectuais e economistas comemoram
minúscula distribuição de renda, como antes os senhores
se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do
açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do
[35] tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do
analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia
da abolição plena.
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos
a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução
[40] educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras
que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a
escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque
continuamos escravocratas. E, ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos
condenados à falta de educação.
CRISTOVAM BUARQUE
A expressão somos escravocratas é repetida quatro vezes no texto que, embora assinado pelo autor Cristovam Buarque, é todo enunciado na primeira pessoa do plural.
O uso dessa primeira pessoa do plural, relacionado à escravidão, reforça principalmente o objetivo de: