Texto
Compartilhando água
Uma das riquezas do Brasil é a água em abun-
dância, nosso Ouro Azul. O que o senso comum não
se dá conta é o porquê de termos água em abun-
dância. E, diga-se de passagem, que vários Brasis
[5] já não têm tanta água assim, e alguns nunca tiveram
desde o tempo da colonização.
Vamos começar por aí. O Brasil não é extrema-
mente rico em água. A Amazônia é, o Pantanal é,
mas a Mata Atlântica – onde vivem cerca de 70% dos
[10] brasileiros – está deixando de ser
Agora, por que o Brasil é rico em água? Primeiro,
por causa da Bacia Amazônica e por suas comple-
xas interações entre o ecossistema amazônico e a
“produção de água”. A vegetação, especialmente a
[15] nativa, tem enorme importância na transpiração e na
diminuição do escoamento superficial das chuvas. E,
se uma de nossas riquezas é a água em abundância,
como fazemos para compartilhá-la? Aí é que começa
o conflito. O ser humano não é hábil em compartilhar,
[20] e, quando se trata de um bem tão precioso, os ânimos
se acirram.
Em primeiro lugar, quando falamos de compar-
tilhamento, estamos falando de toda a água consu-
mida mundialmente no setor produtivo. O consumo
[25] doméstico, tanto no Brasil quanto no resto do mundo,
é de apenas aproximadamente 10% da água disponí-
vel. Os 90% restantes vão para a indústria. Isso quer
dizer que o grande volume de água consumida está
direcionado para o setor produtivo.
[30] Em termos internacionais, quem detém água
detém alimentos; e nações dependentes de impor-
tação para alimentação estão em forte desvantagem
na geopolítica. Se por um lado a transferência virtual
de água pode ser vista como instrumento de pressão
[35] geopolítica, por outro, pode também ser vista como
solução para otimizar o consumo hídrico no planeta.
O mesmo dilema pelo qual passa o comércio interna-
cional globalizado.
Um território sem água se torna inviável para
[40] viver. Enormes conflitos surgem de maneira seme-
lhante aos da exploração de fontes de água por
grandes indústrias. As grandes alterações na pai-
sagem ocasionadas pela construção de barragens
hidroelétricas ou para abastecimento trazem perdas
[45] irreparáveis para o ecossistema e as comunidades
humanas locais.
Como multiplicar essa riqueza? Sim, porque pen-
sar riqueza apenas em termos de gastar o que se tem
(o uso) não é sustentável no sentido mais simples do
[50] termo. Um antigo provérbio árabe já dizia: “confie em
Alah, mas amarre seu camelo.” Ou seja, há em uma
boa parte do Brasil e da América do Sul excelentes
condições de disponibilidade hídrica, e é uma questão
de governança gerenciar esse recurso para benefício
[55] das presentes e futuras gerações.
FIGUEIREDO, Carlos Augusto. Agência Envolverde Jornalismo. Carta Capital. 21/03/2018. Disponível em: http://envolverde. cartacapital.com.br/agua-em-discussao-ouro-azul-nao-e-ouro- -de-tolo/. Acesso em: 29 jan. 2019. Adaptado.
O Texto faz uma proposta sobre a necessidade de compartilhamento da riqueza que a água representa.
Isso é expresso no seguinte trecho: