Texto 1
Réquiem do sol
Águia triste do Tédio, sol cansado,
Velho guerreiro das batalhas fortes!
Das Ilusões as trêmulas coortes
Buscam a luz do teu clarão magoado...
A tremenda avalanche do Passado
Que arrebatou tantos milhões de mortes
Passa em tropel de trágicos Mavortes
Sobre o teu coração ensanguentado...
Do alto dominas vastidões supremas,
Águia do Tédio presa nas algemas
Da Legenda imortal que tudo engelha...
Mas lá, na Eternidade de onde habitas,
Vagas finas tristezas infinitas,
Todo o mistério da beleza velha!
(CRUZ E SOUSA – Poesias Completas de Cruz e Sousa. Org. Tasso da Silveira. Ediouro. Rio de Janeiro.s/d. p.47-48)
Texto 2
Distância
Quando o sol ia acabando
e as águas mal de moviam,
tudo que era meu chorava
da mesma melancolia.
Outras lágrimas nasceram
com o nascimento do dia:
só de noite esteve seco
meu rosto sem alegria.
(Talvez o sol que acabara
e as águas que se perdiam
transportassem minha sombra
para a sua companhia...)
Oh!
mas nem sol nem as águas
os teus olhos a veriam...
que andam longe, irmãos da lua,
muito clara e muito fria...
(CECÍLIA MEIRELES – Obra Poética. Cia. José Aguilar Editora. Rio de Janeiro. s/d. p.124)
Texto 3
Crepúsculo nas montanhas
Além serpeia o dorso pardacento
Da longa serrania,
Rubro flameia o véu sanguinolento
Da tarde na agonia.
No cinéreo vapor o céu desbota
Num azulado incerto;
No ar se afaga desmaiando a nota
Do sino no deserto.
Vim alentar meu coração saudoso
No vento das campinas,
Enquanto nesse manto lutuoso
Pálida te reclinas.
E morre em teu silêncio, ó tarde bela,
Das folhas o rumor
E late o pardo cão que os passos vela
Do tardio pastor.
(ÁLVARES DE AZEVEDO – in: Poesias Completas Rio de Janeiro. s/d. –p.74)
I- No texto 3, o eu lírico assume, como fica claro no último verso do poema, uma postura de pastor, revelando, dessa maneira, a permanência de característica árcade na poesia do Romantismo, estilo de época a que pertence o autor.
II – Os versos “Mas lá da Eternidade de onde habitas” (texto 1); “Os teus olhos a veriam...” (texto 2) e “Pálida te reclinas” (texto 3), indicam, por meio do emprego da segunda pessoa do discurso, a presença de um tu lírico, a quem é dirigido o que é dito nos poemas.
III – No texto 1, o autor, empregando vocábulos semanticamente associados a atividades bélicas, mostra o sol de uma perspectiva mística, numa atmosfera de insondável mistério.