Na cidade de Johanesburgo, um modelo de segregacionismo urbano já existente no início do século XX, ainda durante os anos coloniais, foi aperfeiçoado após a independência. O bairro de Soweto, projetado para realocar trabalhadores africanos negros residentes nas áreas centrais, resulta de um longo processo que teve influência tanto do colonialismo britânico quanto das políticas segregacionistas nas décadas de 50 e 60 do século passado. No mesmo período, observamos no Brasil o fenômeno da expansão urbana na região Centro-Oeste, com a transferência da nova capital. A construção de Brasília estimulou um fluxo migratório e mobilizou famílias nordestinas, pretas e pardas, em torno dos trabalhos na área da construção civil. A princípio, não existia um planejamento para a fixação desses homens e dessas mulheres na nova capital, e os reajustes no projeto urbano foram surgindo a partir das políticas de realocação dos assentamentos que se formavam na região central de Brasília. Nesse contexto nasceu a cidade de Ceilândia, fruto da remoção, em 1971, de residentes da Vila do IAPI. Seu nome tem origem na sigla da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI). Mas, de que forma Soweto e Ceilândia se relacionam com as ideias de biopolítica e necropolítica? Vemos que o histórico dessas cidades, apesar de suas especificidades, está intimamente ligado às políticas de remoção e “limpeza racial” dos centros urbanos promovidos pelo Estado entre os anos 50 e 70 do século passado.
Guilherme Oliveira Lemos. De Soweto à Ceilândia: siglas de segregação racial. Paranoá (UnB), v. 1, p. 102-14, 2017 (com adaptações)
Considerando o texto e as imagens precedentes, julgue o item
As construções de Soweto, na África do Sul, e de Ceilândia, no Distrito Federal, refletem as influências das teorias racistas e eugênicas sobre o planejamento urbano e as políticas públicas no século XX, marcas comuns ao apartheid sul-africano e ao racismo estrutural brasileiro.