Questões de Filosofia
A história da Grécia antiga (séculos VIII – V a. C.) carrega a tradição da mitologia como forma de transmissão dos saberes explicativos dados pelos sentidos e pelas experiências vivenciadas pelos antepassados. Nesse contexto, concebe-se o mito como “uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder etc.)”. A filosofia surge em consequência de insatisfações com tais narrativas que exigiam das gerações um ato de fé nos narradores, tais como os poetas que recebiam dos antepassados os conhecimentos ou que tinham eles próprios testemunhado os acontecimentos. Embora gozassem de certa credibilidade, o tempo e as novas experiências lançaram dúvidas sobre a mitologia e os questionamentos se converteram em esforços racionais para um processo de conhecimento autônomo e atual, dado pela ação inteligível, analítica e reflexiva dos primeiros filósofos.
Nessa perspectiva, vê-se uma produção de saberes intelectuais que ganham forma de ciência, a partir do resultado do fazer filosófico, como processo de ruptura com a tradição mitológica. Chauí (2002) afirma que, “No Livro VI da Metafísica e no Livro I da Ética a Nicômaco, Aristóteles apresenta a finalidade do conhecimento ou ciência – epistéme – e da ação-práxis e poieis –, ao mesmo tempo que apresenta os princípios de cada uma delas. O conhecimento de todos os seres, das modalidades de ações humanas e dos artefatos produzidos pelos homens se chama filosofia. Para Aristóteles e para o Ocidente, até o século XIX de nossa era, filosofia e ciência eram uma só e mesma coisa.
Toda ciência, diz Aristóteles, investiga os princípios, as causas e a natureza dos seres que são seu objeto de estudo. ‘Só há ciência quando conhecemos pelas causas’ é o lema fundamental de Aristóteles (e do pensamento ocidental). Afirma, ainda, o autor da Ética a Nicômaco que o fato de as ciências possuírem em comum o procedimento – mèthodos – de busca dos princípios e das causas, não as tornam iguais, pois diferem conforme a natureza do ser ou objeto que investigam, ou, como cita Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, há uma só ciência para cada gênero de ser.
Essa diferença da natureza das coisas investigadas faz com que os princípios e as causas em cada ciência sejam diferentes dos das outras e permitem classificá-las em três grandes grupos”, os quais são, conforme o filósofo estagirita,
Nas últimas décadas, o mundo dos homens tem sentido o peso da civilização industrial e tecnológica, que intensificou, desde o século XIX, a partir da Europa Ocidental e dos Estados Unidos especialmente, o grande projeto do capitalismo. A economia capitalista alastra-se pelo mundo e leva, no seu bojo, os avanços da tecnologia e a superestrutura do mercado. Sistemas e redes são pensados e construídos para tornarem os humanos “domesticados, burocratizados e servis”, vivendo uma “vida de gado”, como bem ilustra a música do brasileiro Zé Ramalho. Também é um tempo em que muito se fala sobre valores morais e sobre ética. Quem define os valores e os escolhem? Silvio Gallo, ao abordar a temática “os valores e as escolhas”, em que trata de valor, escolha e liberdade, destaca o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1980) que, “em sua obra O ser e o nada, assim como Nietzsche, discute a universalidade do valor. Ele fala em ‘ser do valor’, que seria uma produção da consciência. Sartre trabalha com o método fenomenológico, criado pelo filósofo e matemático austríaco Edmund Husserl, que tem como um dos conceitos centrais a consciência. Para Husserl e Sartre, a consciência é a realidade do ser humano, único ser consciente no mundo”. Portanto, ao se tratar de valores morais e ética na contemporaneidade, nessa visão existencialista de Sartre, as escolhas perpassam pela consciência que se tem da liberdade, o que o leva a afirmar que o ser humano está “condenado a ser livre”.
Qual argumento do próprio Sartre, extraído de O ser e o nada, fundamenta o que Sílvio Gallo apresenta sobre liberdade?
Na tentativa de compreender como surgiu o Estado, alguns filósofos da política criaram um modelo teórico baseado numa hipótese contratualista, a respeito da qual é CORRETO afirmar.
Nenhuma ética anterior tinha de levar em consideração a condição global da vida humana, o futuro distante e até mesmo a existência da espécie. Com a consciência da extrema vulnerabilidade da natureza à intervenção tecnológica do homem, surge a ecologia. Repensar os princípios básicos da ética. Procurar não só o bem humano, mas também o bem de coisas – extra-humanas, ou seja, alargar o conhecimento dos “fins em si mesmos” para além da esfera do homem, e fazer com que o bem humano incluísse o cuidado delas.
JONAS, Hans. Ética, medicina e técnica. Lisboa: Vega Passagens, 1994, p. 40.
Com base nos princípios da ética da responsabilidade de Hans Jonas, voltada para as especificidades dos desafios impostos pelo que o autor chama de civilização tecnológica, considere as seguintes assertivas:
I As éticas tradicionais são suficientes para responder às demandas ambientais da civilização tecnológica.
II As interferências técnicas dos seres humanos no meio ambiente atingiram proporções nunca antes vistas, as quais exigem uma nova postura ética à altura.
III A humanidade precisa expandir o campo de preocupação ética, atualizando-a, corrigindo-a e ampliando-a para o âmbito das coisas extra-humanas.
IV As ações humanas não têm consequências na natureza. O meio ambiente é capaz de tolerar todas as intervenções da civilização tecnológica sem sofrer prejuízos.
V Cada pessoa deve agir moralmente apenas com base nos próprios interesses. A humanidade não tem nenhum dever ético para com as gerações futuras.
Estão CORRETAS as assertivas.
O Contrato social ou Princípios de direito político, obra publicada em 1762 e eternizada como um dos principais textos fundadores do Estado moderno, do filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
"Apesar de sua presumida evidência, a articulação entre liberdade e igualdade é mais complicada do que parece. Sua reunião em um mesmo indivíduo, que seria, ao mesmo tempo, livre e igual a seus semelhantes, esconde tensões significativas. Como, por exemplo, alguém poderia ser livre em um contexto no qual prevalecem desigualdades aberrantes? Em contrapartida, o que resta da liberdade se os indivíduos não puderem singularizar-se e diferenciar-se uns dos outros?"
(FIGUEIREDO, V. A paixão da Igualdade: uma genealogia do indivíduo moral na França. Belo Horizonte: Relicário, p. 9, 2021.)
Escolha, dentre as alternativas a seguir, aquela que sintetiza melhor a ideia expressa na citação de Figueiredo: