Questões de Português - Gramática - Linguagem - Expressões idiomáticas
O navio negreiro
Castro Alves
(...)
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual num sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Na penúltima estrofe anteriormente apresentada do poema O navio negreiro, de Castro Alves, as formas verbais ‘Vibrai’ e ‘Fazei’
Um dos traços do estilo de Guimarães Rosa diz respeito à adoção de uma linguagem proverbial. Assinale a alternativa em que a frase desse autor veicula uma mensagem semelhante à do provérbio “Depois da tempestade, vem a bonança”.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
[...]
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
(Carlos Drummond de Andrade. José, 2012.)
No verso da primeira estrofe “você que é sem nome”, a expressão em destaque equivale a
Expressões Idiomáticas
Expressões idiomáticas ou idiomatismo são expressões que se caracterizam por não identificar seu significado através de suas palavras individuais ou no sentido literal. Não é possível traduzi–las em outra língua e se originam de gírias e culturas de cada região. Nas diversas regiões do país, há várias expressões idiomáticas que integram os chamados dialetos.
Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em: 24 abr. 2010 (adaptado).
O texto esclarece o leitor sobre as expressões idiomáticas, utilizando-se de um recurso metalinguístico que se caracteriza por
— Que ventura! — então disse ele, erguendo as mãos ao céu — que ventura, podê-lo salvar!
O homem que assim falava era um pobre rapaz, que
ao muito parecia contar vinte e cinco anos, e que, na franca
[5] expressão de sua fisionomia, deixava adivinhar toda a
nobreza de um coração bem formado. O sangue africano
refervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia
da escravidão; e embalde*
o sangue ardente que herdara de
seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam
[10] resfriar, embalde — dissemos — se revoltava; porque se
lhe erguia como barreira — o poder do forte contra o
fraco!…
(...)
E o mísero sofria; porque era escravo, e a
[15] escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os
sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no
coração, permaneciam intactos, e puros como a sua alma.
Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração
enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe
[20] ofereceu à vista.
Reunindo todas as suas forças, o jovem escravo
arrancou de sob o pé ulcerado do desconhecido o cavalo
morto, e, deixando-o por um momento, correu à fonte para
onde uma hora antes se dirigia, encheu o cântaro, e com
[25] extrema velocidade voltou para junto do enfermo, que com
desvelado interesse procurou reanimar. Banhou-lhe a
fronte com água fresca, depois de ter com piedosa bondade
lhe colocado a cabeça sobre seus joelhos. Só Deus
testemunhava aquela cena tocante e admirável, tão cheia de
[30] unção e de caridoso desvelo! E ele continuava a sua obra
de piedade, esperando ansioso a ressurreição do
desconhecido, que tanto o interessava.
Finalmente seu coração pulsou de íntima satisfação;
porque o mancebo, pouco e pouco revocando a vida, abriu
[35] os olhos lânguidos pela dor, e os fitou nele, como que
estupefato e surpreso do que via.
Deixou fugir um breve suspiro, que talvez a pesar
seu se lhe destacasse do coração, e sem proferir uma
palavra de novo cerrou os olhos.
(...)
[40] Entretanto o negro redobrava de cuidados de novo
aflito pela mudez do seu doente. E o dia crescia mais, e o
sol, requeimando a erva do campo, abrasava as faces
pálidas do jovem cavaleiro, que, soltando um outro gemido
mais prolongado e mais doído, de novo abriu os olhos.
[45] Tentou, então, erguer-se envergonhado de uma
fraqueza a que irremissivelmente qualquer um cederia;
porém desalentado e amortecido foi cair nos braços do
compassivo escravo, única testemunha de tão longas dores
[50] e desmaios, e que em silêncio o observava. Mas esta
segunda síncope, menos prolongada que a primeira, não
afligiu tanto ao mísero rapaz, que dedicadamente o
reanimava. A febre começou a tingir de rubor aquela fronte
pálida, dando vida fictícia a uns olhos, que um momento
antes pareciam descair para o túmulo.
[55] — Quem és? — perguntou o mancebo ao escravo
apenas saído do seu letargo. — Por que assim mostras
interessar-te por mim?!…
*em vão, inutilmente
Maria Firmina dos Reis. Úrsula. Cia. das Letras, 2018, p. 54-6 (com adaptações).
Tendo como referência o texto apresentado, extraído do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, julgue o item.
A expressão “o dia crescia mais” (ℓ.42) tem caráter metafórico e foi empregada para denotar o entardecer.
Texto
Estrelas além do tempo
Alex Gonçalves
Após todas as discussões sobre representatividade que permearam o último ano hollywoodiano, “Estrelas Além do Tempo” [2016] se apresenta para o público com um timing perfeito. Há tempos não nos víamos inseridos em um cenário no qual as ideologias reacionárias estão tão evidentes, assim como os protestos em busca pela igualdade. Portanto, nada melhor do que a ficção para nos relembrar de outros períodos também nefastos que não calaram a atuação de heróis anônimos.
No caso de “Estrelas Além do Tempo”, temos uma história que enaltece três figuras reais da NASA até então mantidas anônimas. Tratam-se de Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), três mulheres negras essenciais para o sucesso da missão do astronauta John Glenn (Glen Powell) em alcançar a lua.
Entretanto, estamos aqui nos não tão distantes anos 1960, em uma Virgínia segregada e com poucos afroamericanos exercendo profissões que exigem um perfil lógico. Por isso mesmo, as vidas de Katherine, Dorothy e Mary foram triplamente difíceis justamente pela raça e gênero a que pertencem.
Sempre unidas antes e após o expediente de trabalho, essas mulheres enfrentam sozinhas em suas competências os preconceitos que impedem as suas evoluções. Solicitada pelo departamento comandado por Al Harrison (Kevin Costner) para fazer os cálculos que devem assegurar o sucesso da decolagem do foguete que lançará John Glenn às alturas, Katherine é diariamente hostilizada pelos colegas, todos homens e brancos. Já em seu setor, Dorothy tem todos os seus pedidos de promoção sabotados pelo intermédio de Vivian (Kirsten Dunst), enquanto Mary não consegue desempenhar a função de engenheira por ser impedida de ingressar em uma universidade.
Mesmo com todas essas circunstâncias, elas não desistirão de provar as singularidades que possuem, visualizando os obstáculos não como limites, mas como incentivos para continuarem perseverando. Temos com isso aquele modelo de narrativa cinematográfica que encanta desde os tempos do tramp de Charlie Chaplin, no qual a vontade para ganhar um lugar ao sol é maior do que as adversidades.
Diretor de “Um Santo Vizinho”, Theodore Melfi se apropria do texto de Allison Schroeder compreendendo muito bem as características desse cinema inspirado e inspirador, contornando com traços ficcionais uma história real para ser efetivo principalmente em seus gritos de protesto. É especialmente arrebatadora a explosão de Katherine ao finalmente externar a sua humilhação ao precisar se prestar a um trajeto de mais de um quilômetro para ir ao banheiro exclusivo para negros. Não ficam muito atrás o fervor de Dorothy e Mary em se provarem extremamente capazes de enfrentar novos desafios.
Além do mais, Melfi conduz com uma fluidez invejável algo que, em teoria, não tem qualquer encanto. Mesmo o mais avesso aos raciocínios de exatas se verão imediatamente hipnotizados com números e fórmulas que se revelam não somente como uma ciência complexa, como também como instrumentos sociais que só engrenam quando os seus operadores se reconhecem como semelhantes.
Publicado em 09/02/2017. Disponível em: http://cineresenhas.com.br/2017/02/09/resenha-critica-estrelas-alem-do-tempo-2016/. Acesso em: 30/03/2018.
De acordo com o autor, “Estrelas além do tempo” apresenta um “timing perfeito” porque:
Faça seu login GRÁTIS
Minhas Estatísticas Completas
Estude o conteúdo com a Duda
Estude com a Duda
Selecione um conteúdo para aprender mais: