Questões de Literatura - Literatura de outros povos ou países de língua portuguesa
101 Questões
Questão 35 14650303
UECE Específicas 2ª Fase 1° Dia 2025/2Vozes-mulheres
Conceição Evaristo
A voz de minha bisavó
ecoou criança
[40] nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
[45] aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
[50] roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
[55] com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
[60] recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
[65] a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
EVARISTO, Conceição. Vozes-mulheres. In: EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017. p. 24-25.
No texto, o eu lírico trata de uma linhagem ancestral composta da bisavó, da avó, da mãe, de si mesma e da filha.
Nesse contexto, a análise das questões sociais abordadas no texto remete a um aspecto
Questão 36 14562247
URCA Dia 2° 2025/1Leia o texto a seguir (trecho selecionado do "Ninguém matou Suhura", de Lília Momplé) e responda à questão.
Na semipenumbra do seu quarto exíguo e abafado, Suhura acorda sorrindo ao novo dia que desponta. Contudo, não tem qualquer motivo para sorrir. Aos quinze anos é analfabeta, órfã de pai e extremamente pobre. Além disso, vai morrer antes de o dia findar.
De natureza predisposta à alegria, o simples fato de viver a enche de satisfação. Por isso ela sorri à claridade morna que a desperta, salta rapidamente da quitanda e corre para a janelinha de madeira que abre de par em par.
São cinco horas da manhã. Porém a luz do dia já penetra a jorros, iluminando cruamente o quarto. Este é um compartimento minúsculo, de paredes de mataca carcomida e teto sem forro, onde se atravancam a quitanda de Suhura, uma velha mala de latão assente sobre quatro pedregulhos, e a quitanda da avó.
MOMPLÉ, L. Ninguém matou Suhura. 3. ed. Maputo: Edição da Autora, 2007.
No trecho do conto de Lília Momplé, é possível identificar marcas linguísticas que remetem ao contexto sociocultural e regional de Moçambique.
Assinale a alternativa que melhor analisa os aspectos relacionados às variedades linguísticas e sua relação com o contexto narrativo:
Questão 35 14562244
URCA Dia 2° 2025/1Leia o texto a seguir (trecho selecionado do "Ninguém matou Suhura", de Lília Momplé) e responda à questão.
Na semipenumbra do seu quarto exíguo e abafado, Suhura acorda sorrindo ao novo dia que desponta. Contudo, não tem qualquer motivo para sorrir. Aos quinze anos é analfabeta, órfã de pai e extremamente pobre. Além disso, vai morrer antes de o dia findar.
De natureza predisposta à alegria, o simples fato de viver a enche de satisfação. Por isso ela sorri à claridade morna que a desperta, salta rapidamente da quitanda e corre para a janelinha de madeira que abre de par em par.
São cinco horas da manhã. Porém a luz do dia já penetra a jorros, iluminando cruamente o quarto. Este é um compartimento minúsculo, de paredes de mataca carcomida e teto sem forro, onde se atravancam a quitanda de Suhura, uma velha mala de latão assente sobre quatro pedregulhos, e a quitanda da avó.
MOMPLÉ, L. Ninguém matou Suhura. 3. ed. Maputo: Edição da Autora, 2007.
O conto de Lília Momplé dialoga com a formação da identidade nacional e a experiência histórica de Moçambique, explorando elementos sociais, culturais e simbólicos que marcam os países lusófonos.
Com base no trecho apresentado, assinale a alternativa que melhor analisa a relação entre o contexto descrito e a construção da identidade nacional em manifestações literárias:
Questão 7 14468642
UNESP Conhecimentos Gerais 2025/1Para responder à questão, leia o conto “Passei por um sonho”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa (1960- ).
[1] Começou com um sonho. Afinal, é como começa quase tudo. Justo Santana, enfermeiro de profissão, sonhou um pássaro.
— Passei por um sonho — disse à mulher quando esta acordou —, e vi um pássaro.
A mulher quis saber que espécie de pássaro, mas Justo Santana não foi capaz de precisar. Era um pássaro grande, grave, branco como um ferro incandescente, e com umas asas ainda mais brilhosas, que o dito pássaro usava sempre abertas, de tal maneira que fazia lembrar Jesus Cristo prega do na cruz.
— Fui sonhado por ti — disse-lhe o pássaro —, com o fim de esclarecer o espírito dos Homens e de trazer a liberdade a este pobre país.
[5] O discurso do pássaro assustou o enfermeiro, homem simples, tímido, avesso a confrontos, e sem qualquer vocação para a política.
— Foi apenas um sonho — disse à mulher —, um sonho estúpido.
Na noite seguinte, porém, o pássaro voltou a aparecer--lhe. Estava ainda mais branco, mais trágico, e parecia aborrecido com o desinteresse do enfermeiro:
— Ordeno-te que vás por esse país fora e digas a todos os homens que se preparem para um mundo novo. Os brancos vão partir e os pretos ocuparão as casas, os palácios, as igrejas e os quartéis, e a liberdade há de reinar para sempre.
Dizendo isto sacudiu as asas e as suas penas espalharam-se pelo quarto:
[10] — Com estas minhas penas hás de curar os enfermos — disse o pássaro —, e assim até os mais incrédulos acreditarão em ti e seguirão os teus passos.
Quando Justo Santana despertou o quarto brilhava com o esplendor das penas. Na manhã desse mesmo dia o enfermeiro serviu-se de uma delas para curar um homem com elefantíase e à tardinha devolveu a vista a um cego. Passado apenas um mês a sua fama de santo e milagreiro já se espalhara muito para além das margens do Rio Zaire e à porta da sua casa ia crescendo uma multidão de padecentes. [...]
Justo Santana colocava na boca dos enfermos uma pena do pássaro, como se fosse uma hóstia, e estes imediatamente ganhavam renovado alento. Enquanto fazia isto o enfermeiro repetia os discursos do pássaro, incapaz de compre ender a fúria daquelas palavras e o alcance delas. Todas as noites sonhava com a ave e todas as noites esta o forçava a decorar um discurso novo, após o que sacudia as asas, espalhando pelo ar morto do quarto as penas milagrosas:
— Se esse pássaro continuar assim tão generoso — disse Justo Santana à mulher —, ainda o veremos transformado numa alma despenada.
Isto durou um ano. Então, numa manhã de cacimbo1, apareceram quatro soldados à porta da casa, afastaram com rancor a multidão de desvalidos, e levaram Justo Santana. O infeliz foi acusado de fomentar o terrorismo e a sublevação, e desterrado para uma praia remota, em pleno deserto do Namibe, onde passou a exercer o ofício de faroleiro.
[15] Quando o encontrei, muitos anos depois, em Luanda2, ele falou-me desse desterro com nostalgia:
— Foi a melhor época da minha vida.
Encontrei-o doente, estendido numa larga cama de ferro, sob lençóis muito brancos. No quarto havia apenas a cama e um pequeno crucifixo preso à parede. Na sala ao lado os devotos rezavam murmurosas ladainhas. Aquela era a sede da Igreja do Divino Espírito. Não tinha sido nada fácil chegar até junto do enfermeiro: os seus seguidores guardavam-no corno a uma relíquia — na verdade mantinham-no preso ali, naquele quarto, quase isolado do mundo, desde 19753.
A melhor época da vida de Justo Santana terminou de forma trágica, numa noite de tempestade, quando um bando de aves migratórias caiu sobre o farol. Enlouquecidas pela luz as avezinhas batiam contra o cristal até quebrarem as asas, sendo depois arrastadas pelo vento. Isto está sempre a acontecer. Milhares de aves migratórias morrem todos os anos traídas pelo fulgor dos faróis. Naquela noite, desrespeitando as normas, Justo Santana foi em socorro das aves e desligou o farol. Teve pouca sorte: um barco com tropas, de regresso à metrópole, perdeu-se na escuridão e encalhou na praia. Dessa vez o enfermeiro foi julgado, condenado a quinze anos de prisão, e enviado para o Tarrafal4, em Cabo Ver de. Foi solto com a Revolução de Abril5 e regressou a Angola.
Quando o visitei, antes de me ir embora, quis saber se o pássaro ainda lhe frequentava os sonhos. Ele olhou em redor para se certificar de que estávamos sozinhos:
[20] — Estrangulei-o — segredou com um sorriso cúmplice —, mas enquanto eu for vivo não conte isto a ninguém.
(Rita Chaves (org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa, 2009.)
1cacimbo: estação com elevado índice de umidade caracterizada pela descida gradual da temperatura e pelo aumento da nebulosidade.
2Luanda: capital de Angola.
3Angola tornou-se um país independente em 1975.
4Tarrafal: antiga colônia penal portuguesa.
5 Ocorrida em 25 de abril de 1974, a Revolução de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, restabeleceu a democracia em Portugal, abrindo caminho para o processo de descolonização dos países da África.
“— Se esse pássaro continuar assim tão generoso — disse Justo Santana à mulher —, ainda o veremos transformado numa alma despenada.” (13o parágrafo)
Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem as seguintes formas:
Questão 3 14468615
UNESP Conhecimentos Gerais 2025/1Para responder à questão, leia o conto “Passei por um sonho”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa (1960- ).
[1] Começou com um sonho. Afinal, é como começa quase tudo. Justo Santana, enfermeiro de profissão, sonhou um pássaro.
— Passei por um sonho — disse à mulher quando esta acordou —, e vi um pássaro.
A mulher quis saber que espécie de pássaro, mas Justo Santana não foi capaz de precisar. Era um pássaro grande, grave, branco como um ferro incandescente, e com umas asas ainda mais brilhosas, que o dito pássaro usava sempre abertas, de tal maneira que fazia lembrar Jesus Cristo prega do na cruz.
— Fui sonhado por ti — disse-lhe o pássaro —, com o fim de esclarecer o espírito dos Homens e de trazer a liberdade a este pobre país.
[5] O discurso do pássaro assustou o enfermeiro, homem simples, tímido, avesso a confrontos, e sem qualquer vocação para a política.
— Foi apenas um sonho — disse à mulher —, um sonho estúpido.
Na noite seguinte, porém, o pássaro voltou a aparecer--lhe. Estava ainda mais branco, mais trágico, e parecia aborrecido com o desinteresse do enfermeiro:
— Ordeno-te que vás por esse país fora e digas a todos os homens que se preparem para um mundo novo. Os brancos vão partir e os pretos ocuparão as casas, os palácios, as igrejas e os quartéis, e a liberdade há de reinar para sempre.
Dizendo isto sacudiu as asas e as suas penas espalharam-se pelo quarto:
[10] — Com estas minhas penas hás de curar os enfermos — disse o pássaro —, e assim até os mais incrédulos acreditarão em ti e seguirão os teus passos.
Quando Justo Santana despertou o quarto brilhava com o esplendor das penas. Na manhã desse mesmo dia o enfermeiro serviu-se de uma delas para curar um homem com elefantíase e à tardinha devolveu a vista a um cego. Passado apenas um mês a sua fama de santo e milagreiro já se espalhara muito para além das margens do Rio Zaire e à porta da sua casa ia crescendo uma multidão de padecentes. [...]
Justo Santana colocava na boca dos enfermos uma pena do pássaro, como se fosse uma hóstia, e estes imediatamente ganhavam renovado alento. Enquanto fazia isto o enfermeiro repetia os discursos do pássaro, incapaz de compre ender a fúria daquelas palavras e o alcance delas. Todas as noites sonhava com a ave e todas as noites esta o forçava a decorar um discurso novo, após o que sacudia as asas, espalhando pelo ar morto do quarto as penas milagrosas:
— Se esse pássaro continuar assim tão generoso — disse Justo Santana à mulher —, ainda o veremos transformado numa alma despenada.
Isto durou um ano. Então, numa manhã de cacimbo1, apareceram quatro soldados à porta da casa, afastaram com rancor a multidão de desvalidos, e levaram Justo Santana. O infeliz foi acusado de fomentar o terrorismo e a sublevação, e desterrado para uma praia remota, em pleno deserto do Namibe, onde passou a exercer o ofício de faroleiro.
[15] Quando o encontrei, muitos anos depois, em Luanda2, ele falou-me desse desterro com nostalgia:
— Foi a melhor época da minha vida.
Encontrei-o doente, estendido numa larga cama de ferro, sob lençóis muito brancos. No quarto havia apenas a cama e um pequeno crucifixo preso à parede. Na sala ao lado os devotos rezavam murmurosas ladainhas. Aquela era a sede da Igreja do Divino Espírito. Não tinha sido nada fácil chegar até junto do enfermeiro: os seus seguidores guardavam-no corno a uma relíquia — na verdade mantinham-no preso ali, naquele quarto, quase isolado do mundo, desde 19753.
A melhor época da vida de Justo Santana terminou de forma trágica, numa noite de tempestade, quando um bando de aves migratórias caiu sobre o farol. Enlouquecidas pela luz as avezinhas batiam contra o cristal até quebrarem as asas, sendo depois arrastadas pelo vento. Isto está sempre a acontecer. Milhares de aves migratórias morrem todos os anos traídas pelo fulgor dos faróis. Naquela noite, desrespeitando as normas, Justo Santana foi em socorro das aves e desligou o farol. Teve pouca sorte: um barco com tropas, de regresso à metrópole, perdeu-se na escuridão e encalhou na praia. Dessa vez o enfermeiro foi julgado, condenado a quinze anos de prisão, e enviado para o Tarrafal4, em Cabo Ver de. Foi solto com a Revolução de Abril5 e regressou a Angola.
Quando o visitei, antes de me ir embora, quis saber se o pássaro ainda lhe frequentava os sonhos. Ele olhou em redor para se certificar de que estávamos sozinhos:
[20] — Estrangulei-o — segredou com um sorriso cúmplice —, mas enquanto eu for vivo não conte isto a ninguém.
(Rita Chaves (org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa, 2009.)
1cacimbo: estação com elevado índice de umidade caracterizada pela descida gradual da temperatura e pelo aumento da nebulosidade.
2Luanda: capital de Angola.
3Angola tornou-se um país independente em 1975.
4Tarrafal: antiga colônia penal portuguesa.
5 Ocorrida em 25 de abril de 1974, a Revolução de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, restabeleceu a democracia em Portugal, abrindo caminho para o processo de descolonização dos países da África.
No conto, os discursos do pássaro são caracterizados, sobretudo, como
Questão 11 14433900
UFT Manhã 2025/1Leia os fragmentos de textos, Texto I e Texto II, para responder a QUESTÃO.
Texto I
a gente nem sabe
a gente imagina
como poderia ser
e vai caminhando,
o coração como bússola
olhar na imensidão
e tantos sonhos
a se perderem de vista;
a gente nem sabe
o que a vida tem,
nem sabe também
pra onde o destino vai
e ainda assim vamos
certos por linhas nem tanto
e às vezes tortas,
cegos por trilhas nem sempre
e às vezes falsas;
a gente calcula
como poderia somar
e vai pelejando,
a mente como seta
luz a escuridão
e tantas noites
a se perderem na lida;
[...]
Fonte: PINHEIRO, Tião. Amorosamente: (Poemas). Palmas: Promic, 2022, p. 62. [fragmento]
Texto II
Uma das coisas mais perturbadoras sobre minha jornada, mental, física e emocionalmente, era que eu não tinha certeza de quando nem onde ela ia terminar. Eu não sabia o que faria da minha vida. Sentia como se estivesse sempre recomeçando. Estava sempre me mexendo, sempre indo a algum lugar. Quando caminhávamos, às vezes eu me deixava ficar para trás, pensando sobre essas coisas todas. Sobreviver a cada dia que passava era meu objetivo na vida. Nas aldeias onde conseguíamos encontrar a felicidade de obter comida ou água fresca, eu sabia que aquilo era temporário e que estávamos apenas de passagem. [...]
Fonte: BEAH, Ishmael. Muito longe de casa: memórias de um menino soldado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2008. p. 69. [fragmento]
Sobre o fragmento do poema “a gente nem sabe”, do poeta tocantinense Tião Pinheiro, e o fragmento do romance Muito longe de casa: memórias de um menino soldado, do escritor serra-leonese Ishmael Beah, é INCORRETO afirmar que os dois textos:
Pastas
06