Questões de Literatura - Literatura brasileira - Escolas Literárias - Naturalismo
281 Questões
Questão 4 14528989
UEMA PAES 2025Aluísio de Azevedo, maranhense nascido em São Luís, autor de Casa de Pensão, mantém em sua ficção relações vivas com o mundo real, demonstrando como comportamentos humanos são determinados pelo meio. Foram selecionados dois fragmentos que servem de base para a questão.
Texto I
Estava hospedado há dois dias em casa do Campos; esse tempo levara ele a entregar cartas e encomendas. À noite, fatigado e entorpecido pelo calor, mal tinha ânimo para dar uma vista de olhos pelas ruas da cidade.
Entretanto, a vida externa o atraía de um modo desabrido; estalava por cair no meio desse formigueiro, desse bulício vertiginoso, cuja vibração lhe chegava aos ouvidos, como os ecos longínquos de uma saturnal. Queria ver de perto o que vinha a ser essa grande Corte, de que tanto lhe falavam; ouvira contar maravilhas a respeito de cortesãs cínicas e formosas, ceias pela madrugada, passeios ao Jardim Botânico, em carros descobertos, o champanhe ao lado, o cocheiro bêbado; – e tudo isso o atraía em silêncio, e tudo isso o fascinava, o visgava com domínio secreto de um vício antigo.
– Mas, por onde havia de principiar?... Não tinha relações, não tinha amigos que o encaminhassem! Além disso, o Campos estava sempre a lhe moer o juízo com as matrículas, com a entrada na academia, com um inferno de obrigações a cumprir, cada qual mais pesada, mais antipática, mais insuportável!
– Olhe, seu Amâncio, que o tempo não espicha – encolhe!... É bom ir cuidando disso!... repetia-lhe o negociante, fazendo ar sério e comprometido. - Veja agora se vai perder o ano! Veja se quer arranjar por aí um par de botas!...
Amâncio fingia-se logo muito preocupado com os estudos e falava calorosamente na matrícula.
Mexa-se então, homem de Deus! bradava o outro. – Os dias estão correndo!...
Afinal, graças aos esforços do Campos, conseguiu matricular-se na academia, duas semanas depois de ter chegado ao Rio de Janeiro.
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. Editora Ática, 1997.
Texto II
[...]
– Bem me dizia o Simões, pensou ele. – Bem me dizia o Simões “Quando te começarem as aventuras, hás de ver o que vai por esta sociedade!” [...]
– O Simões tinha toda a razão ... principiavam as aventuras! Diabo era aquela asneira de abandonar tão intempestivamente a casa do Campos! Fora uma triste ideia, que dúvida! mas ele também não podia adivinhar quais seriam as intenções de Hortência!... O melhor por conseguinte era não se apoquentar – o que lhe estivesse destinado havia de chegar- lhe às mãos!...
E já nem pensava nisso quando subiu as escadas da casa de pensão. Sorrisos amáveis de Amelinha e de Mme. Brizard o receberam desde a entrada. Coqueiro estava na rua.
Veio à conversa o baile dessa noite. Amâncio, pela primeira vez, ia conhecer uma sala da Corte. As duas senhoras profetizavam que ele voltaria cativo por alguma carioca.
– Duvido! respondeu o estudante, a rir.
– É! disse a francesa – vocês do Norte são todos uns santinhos! Eu já os conheço! Nunca vi gente tão assanhada.
Amelinha abaixou os olhos, depois de lançar à outra um gesto repreensivo. Mme. Brizard não fez caso e acrescentou:
– Os demônios não podem ver um rabo-de-saia!
– Loló! censurou Amelinha em voz baixa.
– Também não é tanto assim! ... contradisse o provinciano.
Mme. Brizard citou logo os exemplos de casa, até ali entre todos os seus hóspedes, só os nortistas davam sorte em questão de amor. – Um deles, um tal Benfica Duarte, chegara a raptar com escândalo uma crioula, e crioula feia!
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. Editora Ática, 1997.
O texto de Aluísio de Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX.
O fragmento que revela total fidelidade ao discurso naturalista, pois relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça, é o seguinte:
Questão 1 14528727
UEMA PAES 2025Aluísio de Azevedo, maranhense nascido em São Luís, autor de Casa de Pensão, mantém em sua ficção relações vivas com o mundo real, demonstrando como comportamentos humanos são determinados pelo meio. Foram selecionados dois fragmentos que servem de base para a questão.
Texto I
Estava hospedado há dois dias em casa do Campos; esse tempo levara ele a entregar cartas e encomendas. À noite, fatigado e entorpecido pelo calor, mal tinha ânimo para dar uma vista de olhos pelas ruas da cidade.
Entretanto, a vida externa o atraía de um modo desabrido; estalava por cair no meio desse formigueiro, desse bulício vertiginoso, cuja vibração lhe chegava aos ouvidos, como os ecos longínquos de uma saturnal. Queria ver de perto o que vinha a ser essa grande Corte, de que tanto lhe falavam; ouvira contar maravilhas a respeito de cortesãs cínicas e formosas, ceias pela madrugada, passeios ao Jardim Botânico, em carros descobertos, o champanhe ao lado, o cocheiro bêbado; – e tudo isso o atraía em silêncio, e tudo isso o fascinava, o visgava com domínio secreto de um vício antigo.
– Mas, por onde havia de principiar?... Não tinha relações, não tinha amigos que o encaminhassem! Além disso, o Campos estava sempre a lhe moer o juízo com as matrículas, com a entrada na academia, com um inferno de obrigações a cumprir, cada qual mais pesada, mais antipática, mais insuportável!
– Olhe, seu Amâncio, que o tempo não espicha – encolhe!... É bom ir cuidando disso!... repetia-lhe o negociante, fazendo ar sério e comprometido. - Veja agora se vai perder o ano! Veja se quer arranjar por aí um par de botas!...
Amâncio fingia-se logo muito preocupado com os estudos e falava calorosamente na matrícula.
Mexa-se então, homem de Deus! bradava o outro. – Os dias estão correndo!...
Afinal, graças aos esforços do Campos, conseguiu matricular-se na academia, duas semanas depois de ter chegado ao Rio de Janeiro.
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. Editora Ática, 1997.
Texto II
[...]
– Bem me dizia o Simões, pensou ele. – Bem me dizia o Simões “Quando te começarem as aventuras, hás de ver o que vai por esta sociedade!” [...]
– O Simões tinha toda a razão ... principiavam as aventuras! Diabo era aquela asneira de abandonar tão intempestivamente a casa do Campos! Fora uma triste ideia, que dúvida! mas ele também não podia adivinhar quais seriam as intenções de Hortência!... O melhor por conseguinte era não se apoquentar – o que lhe estivesse destinado havia de chegar- lhe às mãos!...
E já nem pensava nisso quando subiu as escadas da casa de pensão. Sorrisos amáveis de Amelinha e de Mme. Brizard o receberam desde a entrada. Coqueiro estava na rua.
Veio à conversa o baile dessa noite. Amâncio, pela primeira vez, ia conhecer uma sala da Corte. As duas senhoras profetizavam que ele voltaria cativo por alguma carioca.
– Duvido! respondeu o estudante, a rir.
– É! disse a francesa – vocês do Norte são todos uns santinhos! Eu já os conheço! Nunca vi gente tão assanhada.
Amelinha abaixou os olhos, depois de lançar à outra um gesto repreensivo. Mme. Brizard não fez caso e acrescentou:
– Os demônios não podem ver um rabo-de-saia!
– Loló! censurou Amelinha em voz baixa.
– Também não é tanto assim! ... contradisse o provinciano.
Mme. Brizard citou logo os exemplos de casa, até ali entre todos os seus hóspedes, só os nortistas davam sorte em questão de amor. – Um deles, um tal Benfica Duarte, chegara a raptar com escândalo uma crioula, e crioula feia!
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. Editora Ática, 1997.
No contexto da obra, o trecho que bem evidencia um exemplo de rebaixamento do ser humano é
Questão 3 12658010
UEA - SIS 2ª Etapa 2024/2026 2023Leia o trecho do conto “O alienista”, de Machado de Assis, para responder à questão abaixo.
No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados! [...]
Agora, se imaginais que o alienista1 ficou radiante ao ver sair o último hóspede da Casa Verde, mostrais com isso que ainda não conheceis o nosso homem. Plus ultra! 2 era a sua divisa. Não lhe bastava ter descoberto a teoria verdadeira da loucura; não o contentava ter estabelecido em Itaguaí o reinado da razão. Plus ultra! Não ficou alegre, ficou preocupado, cogitativo; alguma coisa lhe dizia que a teoria nova tinha, em si mesma, outra e novíssima teoria.
— Vejamos, pensava ele; vejamos se chego enfim à última verdade.
Dizia isto, passeando ao longo da vasta sala, onde fulgurava a mais rica biblioteca dos domínios ultramarinos de Sua Majestade. [...] Era assim que ele ia, o grande alienista, de um cabo a outro da vasta biblioteca, metido em si mesmo, estranho a todas as coisas que não fosse o tenebroso problema da patologia cerebral. Súbito, parou. Em pé, diante de uma janela, com o cotovelo esquerdo apoiado na mão direita, aberta, e o queixo na mão esquerda, fechada, perguntou ele a si:
— Mas deveras estariam eles doidos, e foram curados por mim, — ou o que pareceu cura, não foi mais do que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?
E cavando por aí abaixo, eis o resultado a que chegou: os cérebros bem organizados que ele acabava de curar, eram tão desequilibrados como os outros. Sim, dizia ele consigo, eu não posso ter a pretensão de haver-lhes incutido um sentimento ou uma faculdade nova; uma e outra coisa existiam no estado latente, mas existiam.
Chegado a esta conclusão, o ilustre alienista teve duas sensações contrárias, uma de gozo, outra de abatimento. A de gozo foi por ver que, ao cabo de longas e pacientes investigações, constantes trabalhos, luta ingente com o povo, podia afirmar esta verdade: — não havia loucos em Itaguaí; Itaguaí não possuía um só mentecapto. Mas tão depressa esta ideia lhe refrescara a alma, outra apareceu que neutralizou o primeiro efeito; foi a ideia da dúvida. Pois quê! Itaguaí não possuiria um único cérebro concertado? Esta conclusão tão absoluta não seria por isso mesmo errônea, e não vinha, portanto, destruir o largo e majestoso edifício da nova doutrina psicológica?
A aflição do egrégio Simão Bacamarte é definida pelos cronistas itaguaienses como uma das mais medonhas tempestades morais que têm desabado sobre o homem. Mas as tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão. Vinte minutos depois alumiou-se a fisionomia do alienista de uma suave claridade.
— Sim, há de ser isso, pensou ele.
Isso é isto. Simão Bacamarte achou em si os característicos do perfeito equilíbrio mental e moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades enfim que podem formar um acabado mentecapto.
(Machado de Assis. 50 contos, 2007.)
1 alienista: médico especialista em doenças mentais.
2 Plus ultra!: expressão latina que significa “Mais além!”.
O leitor é figura fundamental na prosa machadiana da maturidade.
Verifica-se a inclusão do leitor na narrativa no seguinte trecho:
Questão 55 11340136
São Leopoldo (Mandic) medicina 2023Leia o excerto para responder à questão.
O Bom-Crioulo
Com efeito, Bom-Crioulo não era somente um homem robusto, uma dessas organizações privilegiadas que trazem no corpo a sobranceira resistência do bronze e que esmagam com o peso dos músculos. […] A chibata não lhe fazia mossa; tinha costas de ferro para resistir como um hércules ao pulso do guardião Agostinho. Já nem se lembrava do número das vezes que apanhara de chibata…
[…]
Entretanto, já iam cinquenta chibatadas! Ninguém lhe ouvira um gemido, nem percebera uma contorção, um gesto qualquer de dor. Viam-se unicamente naquele costão negro as marcas do junco, umas sobre as outras, entrecruzando-se como uma grande teia de aranha, roxas e latejantes, cortando a pele em todos os sentidos.
[…]
Marinheiros e oficiais, num silêncio concentrado, alongavam o olhar, cheios de interesse, a cada golpe.
— Cento e cinquenta!
Só então houve quem visse um ponto vermelho, uma gota rubra deslizar no espinhaço negro do marinheiro e logo este ponto vermelho se transformar numa fita de sangue.
CAMINHA, A. O Bom-Crioulo. São Paulo: Martin Claret, 2006.
O excerto, da obra de Adolfo Caminha, incorpora algumas características da prosa naturalista.
Pode-se reconhecer
Questão 56 10664090
FDF C. Gerais 2023Leia o trecho da obra Angústia, de Graciliano Ramos, para responder à questão.
Retirei a corda do bolso e em alguns saltos, silenciosos como os das onças de José Baía, estava ao pé de Juliãão Tavares. Tudo isto é absurdo, é incrível, mas realizou-se naturalmente. A corda enlaçou o pescoço do homem, e as minhas mãos apertadas afastaram-se. Houve uma luta rápida, um gorgolejo, braços a debater-se. Exatamente o que eu havia imaginado. o corpo de Julião Tavares ora tombava para a frente e ameaçava arrastar-me, ora se inclinava para trás e queria cair em cima de mim. A obsessão ia desaparecer. Tive um deslumbramento. o homenzinho da repartição e do jornal não era eu. Esta convicção afastou qualquer receio de perigo. Uma alegria enorme encheu-me. Pessoas que aparecessem ali seriam figurinhas insignificantes, todos os moradores da cidade eram figurinhas insignificantes. Tinham- me enganado. Em trinta e cinco anos haviam-me convencido de que só me podia mexer pela vontade dos outros. Os mergulhos que meu pai me dava no poço da Pedra, a palmatória de mestre Antônio Justino, os berros do sargento, a grosseria do chefe da revisão, a impertinência macia do diretor, tudo virou fumaça. Julião Tavares estrebuchava. Tanta empáfia, tanta lorota, tanto adjetivo besta em discurso e estava ali, amunhecando, vencido pelo próprio peso, esmorecendo, escorregando para o chão coberto de folhas secas, amortalhado na neblina. Ao ser alcançado pela corda, tivera um arranco de bicho brabo. Aquietava-se, inclinava- se para a frente, os joelhos dobravam-se, o corpo amolecia. Eu tinha os braços doídos e as mãos cortadas. Enquanto Julião Tavares estivesse com a cabeça erguida, a minha responsabilidade não seria tão grande como depois da queda. Quando bebia demais, seu Ivo tinha aquele jeito de arriar, não havia conversa que o levantasse. A lembrança de seu Ivo enfureceu-me.
(Angústia, 2003.)
Na descrição de alguns personagens, o autor recorre a um procedimento bastante empregado por escritores naturalistas: a zoomorfização.
Tal procedimento pode ser identificado no seguinte trecho:
Questão 58 9714593
UFU 1º fase 2023/2Há significativa relação entre literatura e cinema apesar das especificidades de cada uma dessas artes.
Tendo isso em mente, assinale a alternativa que apresenta os movimentos literários brasileiros com os quais a obra cinematográfica Bacurau dialoga predominantemente.
Pastas
06