Questões de Literatura - Literatura brasileira
O meu nome é Severino,
como não tenho outro da pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina: auto de Natal pernambucano. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.
Considerando a obra “Morte e Vida Severina” e seu autor, analise as afirmativas a seguir.
I. A obra de João Cabral de Melo Neto é marcada pela subjetividade e pelo sentimentalismo. A elaboração dos poemas é cuidadosamente planejada e executada, segue método e rigor de um engenheiro. Todas essas características são bem marcantes em “Morte e Vida Severina”.
II. “Morte e Vida Severina” é texto dramático com o subtítulo de “Auto de Natal Pernambucano”. Ao empregar o termo “auto”, o autor retoma as antigas tradições ibéricas, os autos pastoris medievais, como a preferência pelos versos redondilhos (medida velha), que são de origem popular, coerente com a temática e a proposta da obra. Os versos ímpares são versos brancos, e pares, rimados.
III. Severino, personagem, se transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à miséria. A obra trata da travessia de Severino, que sai do sertão (da Serra da Costela, limites da Paraíba) rumo ao Recife (litoral) em busca de melhores condições de vida. Em sua caminhada, depara-se com a miséria e muitas vezes com a morte. Na Zona da Mata, embora veja tudo verde e tanta riqueza, defronta-se com a triste realidade de as usinas dispensarem o trabalho dos homens, os patrões, metonimicamente representados pelo latifúndio, explorarem a força de trabalho, pagando uma ninharia aos empregados.
IV. Quando chega a Recife, o que ele deseja é pouca coisa: um trabalho, água, farinha, algodãozinho da camisa, dinheiro para o aluguel. Mas, coincidentemente, sentase para descansar junto ao muro de um cemitério e ouve os coveiros conversando: “— E esse povo lá de riba / de Pernambuco, da Paraíba, / que vem buscar no Recife / poder morrer de velhice, / encontra só, aqui chegando / cemitérios esperando. / — Não é viagem o que fazem, / vindo por essas caatingas, / vargens; aí está o seu erro: / vêm é seguindo seu próprio enterro”. Ao ouvir isso, seus sonhos de um homem simples se desmancham, pois chega à conclusão de que sua vida será marcada eternamente pela sina que Deus lhe reservou: a morte.
V. Por isso, Severino resolve se jogar da ponte, porém, aparece José Carpina, morador do mangue, com quem Severino dialoga sobre a morte, sempre anunciada, ainda que protelada. A conversa é interrompida com o nascimento do filho de José, em momento epifânico que remete ao nascimento de Jesus – o nome do pai da criança não é aleatório. Amigos, parentes e vizinhos levam presentes, como na história dos reis magos. O nascimento da criança confirma duas realidades: a primeira, trazida pelas previsões das ciganas, de que a vida da criança não será diferente do que a dos pais, portanto, de pobreza e luta; a segunda refere-se à insistência de a vida acontecer, mesmo que a morte e a miséria estejam presentes na vida das pessoas.
Está correto o que se afirma em
Para responder às questão, leia o poema da escritora portuguesa Florbela Espanca, publicado originalmente em 1919.
Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...
(Florbela Espanca. Poemas, 1996.)
Tendo em vista as escolhas formais mobilizadas pela escritora, como o emprego do gênero soneto e de versos decassílabos, o poema aproxima-se da estética
É característica comum ao Modernismo e ao Romantismo no Brasil a
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Os versos acima podem ser atribuídos a uma tendência e a um escritor fundamentais para a consolidação do romantismo no Brasil.
Assinale a alternativa que correlacione corretamente esses dois aspectos:
De tudo isso, eis o saldo positivo: os simbolistas trouxeram à linguagem poética nacional maior flexibilidade, matizes mais variados, fluidez; possibilitaram-lhe fixar o imponderável, sensações profundas, novas ideias. E abriram caminhos. Mas em meados de 1910 convivem com os parnasianos, ambos desgastados e vazios, numa fase de transição para algo novo, que em breve irá explodir violentamente.
Fonte: (PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo: Atica, 2001, p. 280. Grifo nosso)
A expressão "algo novo", em destaque no texto, refere-se à emergência do
Mesmo em seus primeiros livros, quando ainda o cerceavam os cânones românticos e possivelmente o inibia a timidez, o receio de ser diferente dos outros, de enveredar por caminhos até então indevassáveis, já as suas figuras se distinguem pela independência em relação ao meio físico e ao moralismo convencional. Não obedeceu nem ao preconceito, então de rigor, de filiar à natureza tropical o feitio das criaturas, nem ao de fazer personagens exclusivamente boas ou más, tão caro ao romantismo.
Sem preocupação de escola literária desde que se libertou do romantismo, ele observou, como ninguém entre nós, as criaturas em toda a sua realidade, dando a cada aspecto o justo valor, isto é, apreciando a todos com um critério relativo. Foi assim que esse tímido realizou uma audaciosa revolução na nossa literatura ficcionista, até ele subordinada a valores absolutos, que reduziam a simples figurantes as personagens dominadas pela natureza e pela ética convencional.
Dentro, porém, do mundo burguês que descreveu, e que foi, afinal, o seu, não se contentou com as aparências; abismava-se na contemplação das perspectivas inumeráveis da alma humana. Tudo o que o homem da época e da condição de suas criaturas pode pensar, sentir e sonhar, ele o perscrutou. A realidade que via se prolongava na que pressentia, nas reações interiores que acima de tudo o atraíam.
(Lúcia Miguel Pereira. História da literatura brasileira: prosa de ficção, 1988. Adaptado.)
O texto trata do escritor