Questões de Literatura - Textos Literários - Elementos da narrativa - Personagens
1.317 Questões
Questão 39 14650326
UECE Específicas 2ª Fase 1° Dia 2025/2[70] 19 DE JUNHO... A Vera ainda está doente. Ela disse
me que foi a lavagem de alho que eu dei-lhe que lhe fez
mal. Mas aqui na favela várias crianças está atacadas com
vermes.
O José Carlos não quer ir na escola porque está
[75] fazendo frio e ele não tem sapato. Mas hoje é dia de
exame, ele foi. Eu fiquei com medo, porque o frio está
congelando. Mas o que hei de fazer?
Eu saí e fui catar papel. Fui na Dona Julita, ela
estava na feira. Passei na sapataria para pegar o papel. O
[80] saco estava pesado. Eu devia carregar o papel em duas
viagem. Mas carreguei de uma vez porque queria chegar
em casa, porque a Vera estava doente e sozinha.
20 DE JUNHO... Dei leite para a Vera. O que eu sei é
que o leite está sendo despesas extras e está prejudicando
[85] a minha minguada bolsa. Deitei a Vera e saí. Eu estava tão
nervosa! Acho que, se eu estivesse num campo de batalha,
não ia sobrar ninguém com vida. Eu pensava nas roupas
por lavar. Na Vera. E se a doença fosse piorar? Eu não
posso contar com o pai dela. Ele não conhece a Vera. E
[90] nem a Vera conhece ele.
Tudo na minha vida é fantástico. Pai não conhece
filho, filho não conhece pai. ...
Não tinha papéis nas ruas. E eu queria comprar um
par de sapatos para a Vera. (...) Segui catando papel.
[95] Ganhei 41 cruzeiros. Fiquei pensando na Vera, que ia
bradar e chorar, porque ela quando não tem o que calçar
fica lamentando que não gosta de ser pobre. Penso: se a
miséria revolta até as crianças...
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.
O trecho “Tudo na minha vida é fantástico. Pai não conhece filho, filho não conhece pai. ...” (linhas 91-92) apresenta um tom
Questão 12 14554298
Unioeste Manhã 2025Leia o texto e responda a questão.
CASO DE RECENSEAMENTO
O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
– Não quero comprar nada.
– Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
– Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém. Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim?
E fecha-lhe a porta.
Ele bate de novo.
– O senhor, outra vez? Não lhe disse que não adianta pedir auxílio?
– A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta responder a umas perguntinhas.
– Não vou responder a perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
– Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
– Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele.
(Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
– Que é que há? – resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
– É esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada!
– Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo...
– Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo!
O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explicalhe tudo com calma, convence-o de que não é camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório. A ideia de recenseamento, pouco a pou co, se vai instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso. E como não há despesa nem ameaça de despesa de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto – pela primeira vez na vida – da curiosidade do governo.
– O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
– Tenho três, sim senhor.
– Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
– Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
– Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
– Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
– Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
– Isso eu não sei, não me lembro.
E voltando-se para cozinha:
– Mulher, sabes o nome da Pipoca?
A mulher aparece, confusa.
– Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
– Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
– Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente. Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Para gostar de ler: crônicas 2. Edição didática. São Paulo: Ática, 1978.
Em “Orgulhoso de ser objeto – pela primeira vez na vida – da curiosidade do governo” é POSSÍVEL entender que
Questão 10 14554258
Unioeste Manhã 2025Leia o texto e responda a questão.
CASO DE RECENSEAMENTO
O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
– Não quero comprar nada.
– Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
– Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém. Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim?
E fecha-lhe a porta.
Ele bate de novo.
– O senhor, outra vez? Não lhe disse que não adianta pedir auxílio?
– A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta responder a umas perguntinhas.
– Não vou responder a perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
– Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
– Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele.
(Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
– Que é que há? – resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
– É esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada!
– Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo...
– Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo!
O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explicalhe tudo com calma, convence-o de que não é camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório. A ideia de recenseamento, pouco a pou co, se vai instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso. E como não há despesa nem ameaça de despesa de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto – pela primeira vez na vida – da curiosidade do governo.
– O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
– Tenho três, sim senhor.
– Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
– Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
– Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
– Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
– Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
– Isso eu não sei, não me lembro.
E voltando-se para cozinha:
– Mulher, sabes o nome da Pipoca?
A mulher aparece, confusa.
– Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
– Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
– Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente. Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Para gostar de ler: crônicas 2. Edição didática. São Paulo: Ática, 1978.
Esta crônica de Carlos Drummond de Andrade publicada em 1978, fez parte do livro Cadeira de balanço, do mesmo autor, publicado em 1966. É possível, a partir das escolhas lexicais, de um imaginário social e das condições de produção perceber a forma como foi construída a imagem dos moradores e dos subúrbios.
Tendo em vista estas considerações, assinale a alternativa CORRETA cujas sentenças, retiradas da crônica, constroem esse imaginário.
Questão 7 14552983
UEA - Geral Conhecimentos Gerais 2025Leia o trecho do romance Capitães da areia, de Jorge Amado, para responder à questão.
Pedro Bala e João Grande abalaram pela ladeira da Praça. Barandão abriu no mundo também. Mas o Sem-Pernas ficou encurralado na rua. Jogava picula1 com os guardas. Estes tinham se despreocupado dos outros, pensavam que já era alguma coisa pegar aquele coxo. Sem-Pernas corria de um lado para outro da rua, os guardas avançavam. Ele fez que ia escapulir por outro lado, driblou um dos guardas, saiu pela ladeira. Mas em vez de descer e tomar pela Baixa dos Sapateiros, se dirigiu para a praça do Palácio. Porque Sem-Pernas sabia que se corresse na rua o pegariam com certeza. Eram homens, de pernas maiores que as suas, e além do mais ele era coxo, pouco podia correr. E acima de tudo não queria que o pegassem. Lembrava-se da vez que fora à polícia. Dos sonhos das suas noites más. Não o pegariam e enquanto corre este é o único pensamento que vai com ele. [...] Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo
A praça toda fica em suspenso por um momento. “Se jogou”, diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
(Capitães da areia, 2008.)
1picula: brincadeira infantil também conhecida como pega-pega, pegador e manja-pega.
Na frase “E acima de tudo não queria que o pegassem” (1o parágrafo), a expressão sublinhada indica que a ação pretendida pelo personagem é
Questão 6 14552972
UEA - Geral Conhecimentos Gerais 2025Leia o trecho do romance Capitães da areia, de Jorge Amado, para responder à questão.
Pedro Bala e João Grande abalaram pela ladeira da Praça. Barandão abriu no mundo também. Mas o Sem-Pernas ficou encurralado na rua. Jogava picula1 com os guardas. Estes tinham se despreocupado dos outros, pensavam que já era alguma coisa pegar aquele coxo. Sem-Pernas corria de um lado para outro da rua, os guardas avançavam. Ele fez que ia escapulir por outro lado, driblou um dos guardas, saiu pela ladeira. Mas em vez de descer e tomar pela Baixa dos Sapateiros, se dirigiu para a praça do Palácio. Porque Sem-Pernas sabia que se corresse na rua o pegariam com certeza. Eram homens, de pernas maiores que as suas, e além do mais ele era coxo, pouco podia correr. E acima de tudo não queria que o pegassem. Lembrava-se da vez que fora à polícia. Dos sonhos das suas noites más. Não o pegariam e enquanto corre este é o único pensamento que vai com ele. [...] Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo
A praça toda fica em suspenso por um momento. “Se jogou”, diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
(Capitães da areia, 2008.)
1picula: brincadeira infantil também conhecida como pega-pega, pegador e manja-pega.
Esse conhecido episódio, que culmina no ato extremo de Sem-Pernas, faz referências ao episódio
Questão 11 14529250
UEMA PAES 2025Manuelzão e Miguilim apresenta duas narrativas complementares que tratam da existência humana. Da leitura do texto, pode-se depreender, comparativamente, que o fio condutor narrativo apresenta
Pastas
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