Questões de Filosofia - Filosofia antiga - Passagem do mito ao logos

O pensamento filosófico não se faz apenas nas universidades e centros de pesquisa, nem se restringe a temas, problemas e conceitos advindos da história da filosofia. Assim, pode-se encontrar em Imagens do inconsciente, obra da psiquiatra ala goana Nise da Silveira (1905-1999), um motivo para aplicar os conhecimentos filosóficos e exercitá-los. Nessa obra, examina-se a repetida repre sentação de mandalas por pacientes esquizofrê nicos (na esquizofrenia, ocorrem afastamento da realidade, fala e pensamento desorganizados). Em pinturas e desenhos nos quais as imagens se apresentavam partidas, incompletas ou desfiguradas, os pacientes de Nise da Silveira figuravam círculos ou neles inscreviam as representações caóticas. A autora intuiu, nesse movimento, a tentativa de curarem-se a si mesmos pela ordenação que a circularidade aplicava ao estilhaçamento das ima gens. Se partirmos dessa caracterização para refletir sobre o início da filosofia, podemos conceber as inumeráveis figuras divinas da mitologia como multiplicação dispersa de imagens significativas (estilhaçamento), e o pensamento filosófico, que se diz ter surgido com Tales de Mileto, como a construção de um movimento circular, isto é, continuamente referido a um centro. Por outro lado, podemos entender, com boas razões, que já a mitologia mantinha referência a um centro, e assim seria, no mínimo, pré-filosófica.

Partindo do que foi dito, assinale a alternativa CORRETA.

O conhecimento filosófico grego foi muito importante para a construção da democracia e “pode ser dividido em três grandes períodos, conhecidos como pré-socrático, socrático e helenístico”.

Fonte: ALEIXO, Gustavo e FERNANDES, Walter. A vida na Grécia Antiga. Barueri: Camelot Editora, 2022, p. 66.

Sobre o período pré-socrático, é CORRETO afirmar que:

“O trabalho de Jean-Pierre Vernant tem como fio condutor mostrar como a razão grega era política, isto é, como a reflexão ligava-se ao exercício da cidadania. Para tal, Vernant traz à cena as estruturas comuns que engendraram a cidade e o pensamento racional [...]. Tratase de mostrar, nas palavras de Vernant, como ‘a viragem do séc. VIII a.C. ao séc. VII a.C. assegura, pela laicização do pensamento político, o advento da filosofia’. O aparecimento da polis (a cidade, no sentido grego) constitui, no mundo grego, um acontecimento decisivo.”

(UOL Educação. As Origens do Pensamento Grego. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/resenhas/asorigens-do-pensamento-grego.htm.)

Essa resenha do livro de Jean-Pierre Vernant nos lembra que, para esse pensador francês, a filosofia nasce na Grécia clássica

“Se as coisas são indiferentes, imensuráveis e indiscerníveis e se, por consequência, sentido e razão não podem dizer nem verdade nem falsidade, a única atitude correta que o homem pode ter é a de não conceder nenhuma confiança aos sentidos nem à razão, mas permanecer adoxastos, vale dizer, sem opinião, ou seja, abster-se do juízo (o opinar é sempre um julgar), e, consequentemente, permanecer sem qualquer inclinação (não inclinar-se para uma coisa mais do que para outra), e permanecer sem agitação, ou seja, não deixar-se abalar por qualquer coisa, vale dizer, ficar indiferente.”

(REALE, Giovanni. História da filosofia antiga vol. III. São Paulo: Loyola, 1994, p. 409.)

A elucidação descreve uma famosa corrente filosófica da antiguidade clássica: o ceticismo. Então, para os céticos:

Leia o texto a seguir.

O mito opõe-se ao logos, como a fantasia opõe-se à razão e a palavra que relata à que demonstra. Logos e mythos são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo um raciocínio, pretende convencer; ele provoca em quem ouve a necessidade de fazer um julgamento. O logos é verdadeiro se for correto e conforme à “lógica”; é falso se dissimular algum embuste secreto (um “sofisma”). Mas o “mito” não tem outro fim senão ele mesmo. Quer se acredite nele ou não, ao bel-prazer, por um ato de fé, quer seja considerado “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se deseja acreditar nele. O mito se vê, assim, atraindo a sua volta toda a parte irracional do pensamento humano: ele é, pela própria natureza, aparentado da arte em todas as suas criações.

GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Trad. de Rejane Janowitzer. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 8.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga, assinale a alternativa correta.

“A relação que constatamos entre o nascimento do filósofo e o aparecimento do cidadão não é para nos surpreender. A Cidade (pólis) realiza no plano das formas sociais uma separação entre a sociedade e a natureza; e essa separação pressupõe, no plano das formas mentais, o exercício de um pensamento racional. Com a Cidade, a ordem política se separou da organização cósmica; a Cidade aparece como objeto de uma constante indagação e reflexão, de uma discussão apaixonada e, ao mesmo tempo, argumentada”.

VERNANT, J.-P. A formação do pensamento positivo na Grécia arcaica. In: Mito e pensamento entre os gregos. Tradução de Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 462-263. (Texto adaptado)

Com base na citação anterior, é correto afirmar que a filosofia grega nasceu