Cidade Invisível: uma janela para a importância sociocultural do Folclore Brasileiro.
Já parou para pensar como personagens como o Saci Pererê, a Cuca ou o Boto Cor-de-Rosa levariam suas vidas nas entranhas populares dos centros urbanos como no bairro da Lapa no Rio de Janeiro? Com essa interessante premissa a nova série da Netflix “Cidade Invisível” brinca com a nostalgia e a identidade do povo brasileiro.
O folclore brasileiro é riquíssimo e seus personagens são rotineiramente explorados em grandes obras, como é o caso de “Macunaíma” de Mário de Andrade e em quase toda a obra de Monteiro Lobato, mas que foram poucas vezes explorados seriamente nas artes visuais.
Cidade Invisível, a nova série da Netflix produzida por Carlos Saldanha, com argumento de Raphael Draccon e Carolina Munhóz, nos apresenta um roteiro adulto repleto de elementos folclóricos apostando em um realismo fantástico digno dos grandes escritores latino-americanos como Gabriel Garcia Márquez e Mario Vargas Llosa.
Na trama policial, o agente ambiental Eric perde a esposa em um misterioso incêndio. Obcecado, passa a investigar as causas do acidente e acaba descobrindo a existência de criaturas fantásticas do folclore vivendo quase como fantasmas disfarçados de pessoas normais nas entranhas do Rio de Janeiro.
A partir dessa premissa, vários personagens do folclore são apresentados ao público de uma forma madura, muito distinta da tradicional. Saci, por exemplo, é um morador de uma ocupação na Lapa, que vive de pequenos golpes para sobreviver. A mãe das águas, ou popularmente, a sereia Iara é uma cantora de bar na parte decadente do morro de Santa Tereza. Cuca é uma dona de um bar alternativo.
A série acerta bastante ao colocar as entidades populares como pessoas comuns sendo duplamente invisibilizadas: primeiro por estarem camuflados entre os humanos e segundo, por estarem em posições excluídas da sociedade como pedintes e malandros. Apenas Cuca possui um papel privilegiado em relação às outras entidades, que talvez garanta sua posição de liderança.
Isso garante dinamismo para a série por dispensar grandes apresentações porque o espectador sabe o que esperar de cada personagem exibido em tela.
A série peca um pouco na execução, porque embora o roteiro policial tenha um argumento bastante interessante, o diretor acaba exagerando no didatismo subestimando um pouco a inteligência do espectador, o roteiro é cheio de voltas desnecessárias.
Cidades Invisíveis definitivamente é uma série com potencial. Em pouco tempo no catálogo a trama alcançou posições de destaque no ranking de mais assistidas no mundo todo.
A utilização do folclore brasileiro como argumento não deixa a desejar, pois é talvez um dos mais ricos do mundo, graças à grande mistura de etnias e culturas que o compõem, a série é sem dúvida alguma, uma boa oportunidade de modernizar e obter um produto de entretenimento bastante sedutor.
Mais do que uma peça de entretenimento, a série acaba se transformando em um documento importante sobre a brasilidade. O folclore presente é um espelho da nossa história. A transformação do jovem escravizado que decepou a própria perna em busca da liberdade se tornando uma entidade sem dúvida diz muito sobre o período histórico, e a situação de vulnerabilidade social do Saci em 2021 demonstra a necessidade de reparação social.
Preservar o folclore é conservar a identidade social e cultural de um povo. Cidade Invisível exibe nossa sabedoria popular ao mundo de uma forma bem legal.
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